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Diário da transição: o jogo dos governos estaduais

Quinta-feira, 8 de dezembro. O processo de transição em curso não se limita ao governo federal. Nos estados também há intensa movimentação nas semanas que antecedem a posse. Governadores reconduzidos ao cargo ou eleitos para um primeiro mandato têm muito trabalho pela frente.

O caso mais emblemático talvez seja São Paulo. Vencedor do pleito, o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) tem como desafio principal mostrar habilidade política. Ele jamais ocupou um cargo eletivo e, por isso, sua futura administração é cercada de desconfiança.

Além disso, ele tem demonstrado claramente a intenção de se afastar do bolsonarismo mais extremista ao caminhar para o centro político. Há sinais nesse sentido, especialmente com a entrada do ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD) no governo. Tarcísio parece disposto a adotar uma linha mais pragmática. Em recente entrevista declarou que nunca foi um “bolsonarista raiz”.

Há, porém, problemas mais delicados, como a política de segurança pública a ser adotada. A indicação do deputado Capitão Derrite (PL/SP) para comandar a pasta gerou ruídos e se tornou um ponto negativo na até então tranquila transição. A PM paulista, como se sabe, é das mais violentas do país e um comandante linha dura não é o melhor caminho a ser adotado. Também o convite a Paulo Guedes para assumir a Fazenda causou estranheza.

Em Minas Gerais, o reeleito Romeu Zema (Novo) também dá sinais de que se descolará do bolsonarismo. Ele já enviou recados ao presidente eleito Lula (PT) e certamente buscará manter uma boa relação com o Planalto. Um jogo ganha-ganha com base no pragmatismo político. Importante observar, no entanto, que como bom mineiro que é, Zema fará esse movimento de forma lenta e gradual.

Também reeleito para o comando do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL) tem a seu favor o fato de seu partido ter eleito um significativo número de deputados estaduais. Com a Assembleia Legislativa em tese controlada, ele busca reforçar seu secretariado - aqui entram figuras como os senadores Flávio Bolsonaro (PL/RJ) e Romário (PL/RJ), que estão sendo ouvidos durante a montagem da equipe do governador.

De volta ao governo do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB) tentará fazer de seu mandato uma espécie de trampolim para um voo nacional - a presidência da República não está descartada. Ele começou bem, pois assumirá em breve o comando de seu partido.

Por fim, em Santa Catarina o eleito, Jorginho Mello (PL), tenta fazer uma mistura entre especialistas e políticos. De um lado, parlamentares como Carmen Zanotto (Cidadania) na Saúde e o ruralista Valdir Colatto (PL) na Agricultura misturam-se a nomes menos conhecidos, de caráter mais técnico. Na seguraça pública, cogita-se o nome do atual superintendente da PRF, Fernando Miranda, figura intimamente ligada aos Bolsonaro.

Espera-se que as relações entre o governo federal e os chefes dos estados sejam mais equilibradas. A eventual discussão de uma reforma tributária será um teste para as partes.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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