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Diário da transição: o início dos trabalhos

Segunda-feira, 7 de novembro de 2022. Enquanto os apoiadores mais radicais do presidente Jair Bolsonaro (PL) continuam mobilizados nas redes sociais defendendo a tese de que houve fraudes nas eleições, o jogo político segue seu curso. O processo transitório começa de fato.

No Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília, representantes do atual governo e da futura administração se sentarão à mesa para a passagem de bastão. Apesar da turbulência dos últimos dias, com bloqueio de rodovias e ameaças de toda ordem, podemos afirmar que, no plano institucional, as conversas têm se dado de maneira republicana.

Nesse primeiro momento, o foco dos trabalhos será assegurar, no orçamento de 2023, a manutenção do auxílio para a população carente em R$ 600. Outra medida proposta pelo governo eleito durante a campanha, um adicional de R$ 150 por criança de até seis anos para essas famílias, por ora está descartada.

Ainda na manhã de hoje, de volta de férias na Bahia, Lula (PT) se reunirá com integrantes da equipe de transição, em São Paulo, para discutir a questão. Apesar da urgência, não há consenso sobre a melhor maneira de agir no caso. Um grupo defende a aprovação de uma proposta de emenda constitucional (PEC) para garantir a continuidade do auxílio, enquanto outros apoiam a edição de uma medida provisória para a abertura de crédito suplementar à União. Essa última, porém, traz maior insegurança jurídica ao processo. O novo governo vive seu primeiro impasse.

No âmbito dos integrantes da equipe de transição, duas observações importantes. No campo da economia, as indicações de André Lara Resende e Pérsio Arida, além do forte simbolismo por serem os “país do Real” e acalmar o mercado, tem outro forte componente - mostram a disposição de se fazer avançar a chamada “frente ampla” e de se manter o mínimo de responsabilidade fiscal. Um gol foi marcado.

A segunda observação diz respeito ao agronegócio, um setor que historicamente mantém restrições a Lula. Carlos Ernesto Augustin, empresário mato-grossense de sementes de soja, deve ser indicado para compor a equipe para tratar de assuntos relacionados ao tema. Ele foi um dos principais interlocutores da campanha do petista com o agronegócio no estado, juntamente com o deputado Neri Geller (PP/MT) e com o senador Carlos Fávaro (PSD/MT).

Enfim, o Brasil ingressa definitivamente em um novo ciclo político. A atual transição tem como referência a passagem de poder do tucano Fernando Henrique Cardoso para Lula, no final de 2002, um ponto alto da democracia em nosso país. Exatos vinte anos depois, o desafio está dado.

André Pereira César
Cientista Político

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