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Diário da transição: dias decisivos 

Sábado, 26, e domingo, 27 de novembro. Os eventos mais recentes deixaram clara a necessidade da presença do presidente eleito Lula (PT) em Brasília nesse momento. Por mais qualificados que sejam os condutores do processo de transição, somente o petista tem condições de aplacar os ânimos e manter o diálogo fluindo.

Desse modo, ele deverá passar a semana na capital federal. São muitas as questões em aberto, todas elas politicamente sensíveis, e que precisam de respostas rápidas. O mundo da política, os mercados, a opinião pública e a comunidade internacional aguardam definições para se posicionarem no novo cenário.

De imediato, Lula deverá priorizar o anúncio dos nomes do ministro da Fazenda (e talvez de outros integrantes da equipe econômica), da secretaria de Governo e da Defesa, por motivos muito simples. O futuro czar da economia entrará em campo de imediato para negociar os termos da PEC do Bolsa Família, tema crucial para o governo eleito; o secretário de Governo tentará melhorar a articulação política, um nó a ser desatado; e o ministro da Defesa, provavelmente um civil, sinalizará aos comandantes militares que não serão tolerados atos golpistas, como os que têm ocorrido nas últimas semanas.

Outra questão sensível que demanda a presença de Lula é a negociação com setores em tese ainda refratários ao futuro governo. Falamos aqui em especial de nichos do empresariado, dos evangélicos e dos ruralistas - esses dois últimos, por sinal, em larga medida se engajaram na campanha de Jair Bolsonaro (PL) na disputa pela reeleição. Já há movimentos no sentido de se marcar reuniões entre o petista e representantes desses grupos. Nessas conversas, a interlocução do vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) tem se mostrado fundamental.

Quanto aos mercados, alguns testes estão sendo feitos nos dias que correm. Por exemplo, ganhou força o nome do ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro Fernando Haddad (PT) para o comando da Fazenda, em uma possível dobradinha com Pérsio Arida, que ficaria à frente do Planejamento. Uma solução à princípio sem muito nexo, pois justamente a parte política, o Planejamento, ficaria nas mãos de um economista, enquanto o lado mais técnico (a Fazenda) seria tocado por um político. De imediato, a ideia gerou estranheza entre os observadores e não se sabe se prosperará.

Como são muitos (centenas) os envolvidos na transição, de diferentes origens e concepções de mundo, tornam-se inevitáveis os ruídos e as rusgas. A Lula será importante mostrar sua capacidade de agregar e juntar os grupos que hoje participam do processo de mudança de governo. Não se trata de tarefa fácil colocar à mesma mesa, por exemplo, o deputado federal eleito Guilherme Boulos (PSOL/SP) e representantes do ex-prefeito e ex-ministro Gilberto Kassab (PSD).

Por fim, a PEC do Bolsa Família, cujo conteúdo ainda é objeto de debates e apesar da importância, mas que parece longe de uma definição, será a prioridade zero para Lula. Ao lado do futuro ministro da Fazenda ele terá melhores condições para fazer a questão avançar.

O presidente eleito precisa se mexer. O momento de “jogar parado” já passou e, agora, é preciso agir, com rapidez e com lucidez. O tempo corre e cada dia perdido pode cobrar uma fatura alta mais à frente.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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