Sinal amarelo para o PT - Hold

Sinal amarelo para o PT

A safra de boas notícias para a campanha petista parece estar chegando ao fim. Após
uma série de pesquisas que mostravam crescimento constante de Fernando Haddad
(PT), dois dos três últimos levantamentos apontam mudanças no cenário. O candidato
não só perdeu velocidade como viu seu principal adversário, Jair Bolsonaro (PSL), abrir
uma confortável frente. Mais ainda, Bolsonaro reagiu e já empata com Haddad no
segundo turno. Algumas hipóteses explicam esse fenômeno.

Discurso anti-sistema: apesar dos muitos anos como deputado federal e, portanto,
pertencer ao establishment, Bolsonaro encarna à perfeição o discurso anti-sistema.

Em um contexto de rápidas e dramáticas mudanças na sociedade, o discurso antisistema
encontra amplo respaldo. Trata-se de um fenômeno planetário, como se sabe
- eleição de Trump nos Estados Unidos; vitória do Brexit no Reino Unido; crescimento e
vitória de partidos de direita na Europa. Dois livros recentes abordam o tema com
precisão e nos ajudam a entender esses fenômenos. São eles "Como as democracias
morrem", de Steven Levitsky & Daniel Ziblatt, e "The populist explosion", de John
Judis.

No caso brasileiro, Bolsonaro surfa na crise e se apresenta como o outsider "contra
tudo que está aí". O candidato faz uma amálgama de discurso pró-família, religioso e
de combate à violência e à corrupção. As pesquisas atestam o êxito dessa estratégia.

Efeito bumerangue do #elenão: o sucesso das manifestações inspiradas pelo
movimento #elenão geraram o efeito paradoxal de despertar parcela até então
"adormecida" do eleitor de Bolsonaro.

De fato, centenas de milhares (talvez milhões) de pessoas compareceram em todo o
país para protestar contra o candidato do PSL. No entanto, essa multidão falou "de si
para si", não ampliando o arco de apoiadores. Quem era contra Bolsonaro reforçou
suas posições, e quem era favorável igualmente manteve seu posicionamento. Mais
ainda, o eleitor do capitão aposentado resolveu fazer frente aos anti-bolsonaristas, um
expressivo e inesperado reforço na reta final de campanha, como demonstraram as
mais recentes pesquisas.

Eleitorado feminino: Bolsonaro enfrenta forte resistência entre as mulheres. Fato. No
entanto, as últimas pesquisas mostram que essa rejeição está perdendo força. Trata-se
de apoio fundamental, pois o eleitorado feminino é majoritário.

Apoio da centro-direita: a perspectiva de poder move o mundo político. A liderança de
Bolsonaro está levando importantes grupos políticos de centro-direita a apoiar
publicamente a candidatura do capitão aposentado ainda no primeiro turno. O
exemplo mais recente é a bancada ruralista. Com mais de 250 integrantes, entre
deputados e senadores, o grupo divulgou nota em apoio a Bolsonaro. Com isso, caso
vença o pleito, ele terá uma base parlamentar de porte razoável, que lhe dará
condições para fazer avançar uma agenda mínima.

Não são apenas os ruralistas que apoiam Bolsonaro. Setores do PSDB já
desembarcaram da candidatura Alckmin, e membros do MDB também flertam com o
candidato do PSL. Desse modo, o PT fica mais e mais isolado na esquerda. Haddad
possivelmente terá dificuldades em ampliar seu leque de aliados se a campanha
continuar nessa toada.

Erros do PT: são muitos os possíveis erros cometidos pelo PT ao longo da campanha.
Elencar os principais não é tarefa difícil. Certa soberba na campanha, o isolamento de
Ciro Gomes (PDT), um discurso por vezes pouco alinhado com os interesses do eleitor
médio incluindo aí, a defesa excessiva de Lula.

Também é importante ressaltar que, na campanha, o PT se afastou do centro e adotou
um discurso mais radical para uns e pouco para outros. Para um eventual segundo
turno, é essencial que os petistas mudem esse posicionamento e encontrem o
equilíbrio em seus posicionamentos.

Conclusão: o resultado de um segundo turno entre Bolsonaro e Haddad é imprevisível.
O que é certo é que a alegada vantagem do petista sobre seu adversário se esfumaçou.
O PT precisa rever suas estratégias se quiser retomar o Planalto em 2019.

André Pereira César
Cientista Político

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