O desafio do PT - Hold

O desafio do PT

O PT entra no processo eleitoral com um duplo desafio à frente - levar seu candidato à
presidência ao menos ao segundo turno e, simultaneamente, manter seu peso no
quadro político nacional. Não será fácil atingir esses objetivos.

Comecemos pela disputa presidencial. O nome de Lula segue povoando corações e
mentes da militância e também de parcela significativa do eleitorado. Na faixa dos 30%
da intenções de voto nas pesquisas em que têm seu nome apresentado, o líder petista
é, inegavelmente, competitivo. Esse fato ajuda a explicar a estratégia do partido em
manter seu nome na disputa, contrariando decisão judicial.

Aí começam os problemas para o PT. A batalha jurídica que se arma no horizonte com
a confirmação da candidatura Lula é francamente desfavorável aos petistas. A ministra
Rosa Weber, que acaba de assumir a presidência do TSE e comandará o julgamento da
legalidade da chapa encabeçada por Lula, tem se manifestado publicamente a favor da
regra da inegibilidade para condenados em segunda instância. Tida como "fria, discreta
e legalista", ela sinaliza que não dará chances à demanda do partido.

Fica então o dilema - abandonar logo o nome de Lula e partir para o "plano B" ou
insistir até o limite nessa estratégia, para reforçar ainda mais a conexão do líder com o
eleitorado?

A decisão não é consensual dentro do partido, assim como não é consensual o nome
por ora escolhido para substituir Lula - o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.

Outro potencial candidato nas fileiras petistas, o ex-governador Jaques Wagner,
recentemente alertou o partido dos riscos de se postergar uma decisão que se sabe
necessária. Em sua opinião, compartilhada por outros membros do partido, quanto
mais cedo o nome de Haddad (ou outro qualquer) for apresentado como candidato
oficial, maiores as chances de êxito. Sempre apresentando o escolhido como o
"candidato de Lula".

Essa força de Lula ajuda também o partido a enfrentar o segundo desafio, a
manutenção de seu peso na cena política nacional. Sem grandes puxadores de votos
pelo país e com importantes lideranças hoje presas ou alijadas da política, o PT precisa
do apoio e do carisma de Lula para engrossar suas bancadas no Congresso Nacional e
nos estados. É do conhecimento geral que não há, em política, transferência
automática de votos, mas a presença de Lula na campanha, mesmo encarcerado em
Curitiba, tem grande valor – bem como as alianças que o PT fez em quinze estados
com partidos que inclusive apoiaram o impeachment da então presidente Dilma
Rousseff.

A situação do PT é similar à de seu grande antagonista, o PSDB. As duas agremiações
vivem aquilo que pode se chamar de "extrema dependência das lideranças máximas".
No caso do PT a situação de Lula expõe essa realidade. No PSDB, o ex-presidente
Cardoso tem o mesmo papel de figura de referência. Em ambos os casos, a renovação
dos quadros de liderança não se concluiu a contento.

Para concluir, o 15 de agosto terá forte caráter simbólico para o PT e seus apoiadores e
simpatizantes. A grande massa presente em Brasília para acompanhar a inscrição da
chapa com Lula à frente, no TSE, mostra que o partido mantém capacidade de
mobilização. Mais ainda, as imagens do evento correrão o mundo e poderão reforçar,
para alguns, a percepção de Lula como "preso político". Hoje, o PT faz um movimento
importante no processo sucessório.

André Pereira César
Cientista Político

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