Impressões sobre a pesquisa Globo/Estadão/Ibope - Hold

Impressões sobre a pesquisa Globo/Estadão/Ibope

A pesquisa Globo/Estadão/Ibope sobre a sucessão presidencial, cujo campo ocorreu
entre 17 e 19 de agosto, traz os seguintes resultados principais:

(1) O ex-presidente Lula mantém a liderança de maneira inabalável. No cenário em
que seu nome é apresentado, ele tem 37% das intenções de voto. Assim, mesmo com
a sua candidatura sub-judice, o petista segue comandando o jogo eleitoral.

(2) O deputado Jair Bolsonaro, por sua vez, vai consolidando sua posição. No cenário
com Lula, ele aparece em segundo lugar, com 18%. Sem Lula, lidera com 20%. Até o
momento, as previsões de que sua candidatura "derreteria" ainda não se
concretizaram, na verdade, ele estabilizou nas pesquisas.

(3) A candidata da Rede, Marina Silva, recebe 6% das citações (com Lula) e 18% (sem
Lula). Ao que tudo indica, ela tem um eleitorado já consolidado e aparece como opção
para quem desejaria votar em Lula.

(4) Já Ciro Gomes (PDT) patina. No cenário com Lula, tem 5% das intenções de voto.
Sem o petista, recebe 9%. Seu desafio é avançar junto ao eleitorado de centroesquerda,
o que não realizou com eficácia até agora.

(5) Opção para o eleitorado de centro-direita, Geraldo Alckmin (PSDB) ainda não
conseguiu decolar. Com Lula na disputa, ele tem 5%. Sem o ex-presidente, aparece
com apenas 7%. Nem mesmo as notícias das últimas semanas, da ampla aliança
formada em torno de sua candidatura, melhoraram seu desempenho. Para Alckmin, o
tempo corre rápido.

(6) O substituto de Lula, o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad (PT) enfrenta
problemas logo no início da campanha. Ele aparece com apenas 4% das citações. Além
disso, 60% afirmam que "não votariam em Haddad de jeito nenhum" caso seja ele o
candidato do PT, enquanto apenas 13% dizem que "com certeza" votarão nele. A
situação do ex-prefeito reforça o dilema vivido pelo PT - mudar já a estratégia para
torná-lo nacionalmente conhecido ou insistir no nome de Lula, apostando na futura e
incerta transferência de votos?

(7) Quanto aos índices de rejeição, Bolsonaro tem 37%, Lula 30%, Alckmin 25%, Marina
23% e Ciro 21%.

(8) Os demais candidatos aparecem como figurantes. Muito difícil imaginar que algum
deles consiga um arranque na reta final da disputa. Álvaro Dias (Podemos), Guilherme
Boulos (PSOL) e João Amôedo (Novo) deverão trabalhar para reforçar suas bancadas
parlamentares.

(9) Resumo da ópera: a disputa segue absolutamente indefinida. Bolsonaro consolida
seus votos, mas precisa ampliar seu eleitorado, principalmente entre as mulheres.
Marina e Ciro disputarão na mesma faixa eleitoral, o eleitor de centro-esquerda. A
velha polarização PT-PSDB, por sua vez, não está descartada, mas seus candidatos
(Alckmin e, muito provavelmente, Haddad) precisarão resolver problemas internos e
revisar estratégias.

André Pereira César
Cientista Político

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