Economia em tempos de eleição - Hold

Economia em tempos de eleição

"É a economia, estúpido!". A frase, cunhada em 1992 por James Carville, marqueteiro
de Bill Clinton, tornou-se um clássico da política. Naquele ano, o então pouco
conhecido ex-governador de Arkansas disputava a presidência contra o republicano
George Bush, que tentava a reeleição.

Naquela ocasião, as condições eram desfavoráveis para o Democrata. Seu adversário
tentava a recondução ao cargo após ter assistido ao colapso da União Soviética e
derrotado o Iraque na Primeira Guerra do Golfo. No entanto, a economia pesou na
decisão do eleitorado. Clinton venceu, e a frase de seu assessor sintetizou aquele
quadro.

Saltemos no tempo. No Brasil de 2018, a crise é grave, quase palpável. Para além dos
aspectos políticos do quadro geral, a economia é elemento central nesse processo.
Baixo crescimento, desemprego e desalento compõem um duro quadro para as
famílias.

Disso surgem as questões. Em tempos de Lava Jato, redes sociais em ebulição e forte
polarização política, o que esperar da influência da economia na disputa brasileira em
2018? Qual o grau de preocupação do eleitor com a situação econômica? E o mundo
do investimento e da produção, como se comportará durante e após o processo
eleitoral?

Da perspectiva do eleitor, o quadro é claro. Há sim grande preocupação com a situação
da economia brasileira, e com o futuro do país. A recente pesquisa "Retratos da
sociedade brasileira", realizada pela CNI/Ibope, sintetiza isso. De acordo com o
levantamento, a economia divide as atenções com a corrupção. Para os brasileiros com
renda familiar acima de cinco salários mínimos, as prioridades para o país são a
redução de impostos (36%) e o controle da inflação (35%). Já 33% desse contingente
considera prioritário o combate à corrupção.

Em uma escala de renda mais baixa, de até um salário mínimo familiar, a preocupação
com a economia é igualmente relevante. Aumento do salário mínimo (38%) e geração
de emprego (33%) aparecem entre os destaques. Não se pode fugir a esse debate,
como se vê.

Os agentes econômicos, por sua vez, estão apreensivos com o presente e também com
o futuro. A economia, que já vinha em ritmo lento, vive agora o que se pode chamar
de um "voo às cegas", dadas as incertezas eleitorais. Investimentos estão em
compasso de espera, o que pode reduzir ainda mais as projeções para o PIB de 2018.
Há quem já afirme que a economia brasileira crescerá apenas 1,2% nesse ano, muito
pouco para a tentativa de retomada do desenvolvimento.

Definidas as candidaturas e alianças, espera-se que os presidenciáveis mergulhem de
cabeça nas questões econômicas, já que contam com assessoria de peso em suas
candidaturas - Geraldo Alckmin - Pérsio Árida; Lula - Márcio Pochmann; Jair Bolsonaro -
Paulo Guedes; João Amoêdo - Gustavo Franco; Marina Silva - André Lara Resende; Ciro
Gomes - Mauro Benevides Filho – apenas para citar algumas.

Independentemente da posição de cada um no espectro ideológico, alguns tópicos são
inevitáveis e terão que ser enfrentados - a reforma da Previdência, o estabelecimento
de um sistema tributário mais racional e justo, um programa consistente para a criação
de empregos, o investimento em educação de qualidade e incentivos para ciência e
tecnologia. A bola agora está nos pés dos candidatos.

"É a economia, estúpido!". Um componente crucial da decisão do voto é o bolso. O
eleitor é racional e, mesmo que muitos digam o contrário, sabe escolher seus
representantes. Que os debates se iniciem e, mais ainda, que propostas para a
retomada do crescimento sejam realmente aplicadas. Não há mais espaço para
aventuras.

André Pereira César
Cientista Político

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