DataFolha: o estado real da disputa sucessória - Hold

DataFolha: o estado real da disputa sucessória

O grande mérito da pesquisa do DataFolha é que ela fornece informações cruciais
sobre o real estado do embate sucessório. Para além de críticas ao método ou a
possíveis distorções no resultado, o levantamento balizará as estratégias de campanha
das duas candidaturas.

São inegáveis a expressiva vantagem e o consequente favoritismo de Jair Bolsonaro
(PSL). Com 58% dos votos válidos, ele manteve a distância sobre Fernando Haddad
(PT), que aparece com 42%. Para se tornar competitivo, o petista precisará contar, a
seu favor, com uma série de fatores.

Em primeiro lugar, Haddad precisará conquistar boa parte dos eleitores que declaram
voto em branco ou nulo ou ainda estão indecisos. Não será fácil avançar sobre esse
contingente que, segundo o DataFolha, totaliza 14% do eleitorado. A crescente
polarização da disputa e o elevado grau de rejeição aos dois candidatos são poderosos
obstáculos para mudanças nas decisões de voto desses eleitores.

Além disso, ao petista será importante tentar ganhar, mesmo que minimamente,
espaço sobre o eleitor de Bolsonaro. Nesse caso, o desafio é ainda maior, pois a ampla
maioria do eleitorado do candidato do PSL está praticamente cristalizada e
possivelmente não mudará de voto. Soma-se a isso, o fato de que o discurso de
Haddad, em linhas gerais, bate de frente com os interesses e demandas dos
bolsonaristas.

Igualmente fundamentais são as mudanças nos rumos da campanha petista. Aqui,
duas questões logo surgem. O que precisa ser alterado na estratégia até agora
utilizada por Haddad e seus aliados? Não seria tarde demais para essas alterações?

O PT já começou a implementar algumas mudanças na campanha em curso. A figura
do ex-presidente Lula perde espaço para Haddad e sua vice, Manuela D'ávila (PC do B),
e o tradicional vermelho petista é substituído pelas cores da bandeira do Brasil. O risco
aqui é parecer por demais artificial.

Haddad precisa ainda caminhar para o centro e buscar algum apoio do mercado. No
primeiro turno, o discurso petista concentrou-se muito à esquerda. Bolsonaro
aproveitou-se bem dessa brecha.

Por fim, as negociações com os partidos têm grande importância. Até o momento, a
maior parte das agremiações tem adotado postura de neutralidade, mas é líquido e
certo que os integrantes dos partidos de centro-direita caminharão ao lado de
Bolsonaro. Mais um ponto negativo para Haddad.

Muito tarde para essas mudanças? A resposta será conhecida nos próximos dias. O
fato é que não restam alternativas ao PT. É mudar a campanha ou assistir sem
resistência ao êxito de Bolsonaro também no segundo turno.

Restam menos de três semanas de campanha. O franco favoritismo do capitão
aposentado é um fato real. Indo além, pode-se dizer que muito dificilmente ele
perderá esse embate. As próximas pesquisas, a serem divulgadas ao longo do segundo
turno, apontarão o grau de acuidade do primeiro levantamento do DataFolha e se as
estratégias, até aqui adotadas, resultarão em mudanças do quadro sucessório.

André Pereira César
Cientista Político

Comments are closed.