Considerações sobre o primeiro debate - Hold

Considerações sobre o primeiro debate

Mantendo a tradição, a Rede Bandeirantes realizou na última quinta-feira o primeiro
debate entre os candidatos à presidência. O evento, televisionado para todo o país,
marcou o início dos embates diretos entre os postulantes ao comando do Planalto.

O formato do evento foi similar ao de anos anteriores. Participaram do debate oito
candidatos que, ao longo de cinco blocos, responderam perguntas de eleitores, de
jornalistas e dos próprios adversários. O PT não esteve presente, pois seu candidato
até o momento, Lula, segue preso em Curitiba e não obteve autorização da justiça para
comparecer ao programa.

O debate em si foi morno. Todos os candidatos pareciam contidos e mais preocupados
em analisar os adversários. No saldo final não houve um grande vencedor ou alguém
absolutamente derrotado. Um empate coletivo resume a noite.

Líder das pesquisas quando Lula não é mencionado, Jair Bolsonaro explorou o campo
que conhece bem - segurança pública. Ele falou em expansão do porte de armas para a
população e na abertura de mais escolas militares. Pouco atacado pelos adversários,
teve um desempenho discreto.

Igualmente discreta foi Marina Silva. A candidata da Rede falou de seu histórico, de
seu comportamento ético e evitou se aprofundar em temas mais polêmicos, como a
questão do aborto. Nada de novo foi apresentado por ela.

Contido, Ciro Gomes focou sua participação nas questões econômicas e sociais.
Criticou a reforma trabalhista e o atual modelo de Estado. Seu conhecido
temperamento explosivo não se manifestou.

O ex-governador Geraldo Alckmin também não apresentou novidades. Em seu estilo
monocórdico, defendeu as reformas previdenciária e tributária e tentou explicar as
razões de sua aliança com o Centrão.

Candidato "oficial" do governo Temer, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles
defendeu sua biografia. Ele falou de suas realizações nas gestões Lula e Temer, citando
uma profusão de números. Seu tom professoral e, por vezes, monótono revelam
pouca familiaridade com a política real. Enfadonho e sem carisma.

O senador Álvaro Dias avançou naquilo que dele se esperava. Criticou a corrupção do
sistema político vigente e elogiou o juiz Sérgio Moro, que por ele será convidado a
assumir o ministério da Justiça caso seja eleito. Sobre seu histórico no PSDB, partido ao
qual pertenceu por anos, nenhuma palavra.

O candidato Guilherme Boulos tentou colocar alguma pimenta no debate, sem
sucesso. Ele também explorou campos que já trilha há tempos, como a defesa da
taxação de grandes fortunas e a legalização do aborto. Em momento mais duro, atacou
Bolsonaro, que reagiu com desdém.

Até então pouco conhecido do eleitorado, Cabo Daciolo tentou fazer o papel de
showman. Falando em tom exasperado, com a Bíblia nas mãos, questionou adversários
misturando reforma da Previdência com segurança das urnas eletrônicas. Um
comportamento que tenta construir a imagem do mito, mas que resulta apenas em
um folclore patético.

O resumo da Ópera é claro - um enfadonho empate sem gols. Os eleitores com votos
já definidos não mudaram de opinião. Os (muitos) indecisos, por sua vez, não tiveram
elementos novos nos quais se basear para tomar alguma decisão. O quadro eleitoral
não se alterou.

André Pereira César
Cientista Político

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