A política externa na sucessão presidencial - Hold

A política externa na sucessão presidencial

Apesar de ter um corpo diplomático extremamente qualificado e tido como referência
mundial, no Brasil, historicamente, os temas relacionados à política externa ficam em
segundo plano nas eleições presidenciais. Na atual disputa, a situação é a mesma.

Em seus programas de governo, entrevistas e debates, o candidatos abordam apenas
superficialmente a questão. Esse quadro merece uma reflexão. Afinal, como nos
inserirmos no mundo? Qual nosso projeto de nação?

Antes de mais nada, é preciso ressaltar que essa discussão vai muito além do tão
almejado assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, um antigo sonho
brasileiro.

Temas de relevância não faltam. Um drama que salta aos olhos de todos, hoje, é o dos
refugiados. Em todo o planeta, milhões de pessoas fogem da miséria e de conflitos
sangrentos, em busca de um abrigo seguro. As ondas humanas, que inicialmente
chegaram à Europa e geraram forte reação de governos e das populações locais, agora
aportam no Brasil. A crise venezuelana aqui desaguou.

A crise econômica da Venezuela, a olhos vistos, fez com que uma parcela da população
deixasse o país, muitos deles através da fronteira brasileira. É preciso que os
candidatos apresentem, desde já, propostas para o grave problema. Por sua vez, ao
novo presidente brasileiro, não importa seu posicionamento ideológico, a questão
deverá ser prioritária. Do contrário, uma crise humanitária de enormes proporções
emergirá desse caos.

Para além da área humanitária, o front externo comporta outras dimensões. O meio
ambiente, por exemplo, ganha cada vez mais espaço no debate internacional. O Brasil,
que sediou eventos de peso como a Eco-92 e a Rio+20, precisa reforçar sua presença
nesse fórum. Espera-se dos candidatos o compromisso de que o país seguirá
colaborando no combate ao aquecimento global e suas mazelas. Meio ambiente como
política de Estado.

Sobre economia, então, não faltam áreas de atuação. O futuro do Mercosul, por
exemplo, é questão de grande importância da qual não se pode mais fugir. O Brasil
deve apostar no aprofundamento das relações com seus parceiros no bloco ou buscar
outros encaminhamentos? Reforçar o Mercosul para buscar mais peso nas
negociações com outros países e blocos? Passar de união aduaneira para um
verdadeiro mercado comum, com total integração e circulação livre de bens, capitais e
serviços? Com a palavra, os presidenciáveis.

Ainda sobre economia, ao Brasil é necessário melhorar seu desempenho no comércio
internacional. Dados da Organização Mundial do Comércio (OMC) referentes ao ano de
2017 mostram que o país ocupa apenas a posição de número 26 no ranking dos
maiores exportadores do mundo. Muito pouco, considerando-se a escala de nosso
setor produtivo. Políticas de incentivo à exportação são mais que necessárias.

Por último, a atual guerra comercial entre os Estados Unidos e a China tem forte
impacto em todo o planeta. Uma consequência imediata é a redução do comércio
global, resultando em menor renda e emprego, inclusive no Brasil. Esse é apenas mais
um exemplo da delicadeza da questão e não pode ser deixado de lado pelos
presidenciáveis.

"Política externa não gera votos". O velho mantra precisa ser urgentemente revisado.
Partindo da premissa de que a política externa é sim uma política pública, todos devem
se engajar nesse debate. O Brasil é um player mundial e não pode se dar ao luxo de
fugir de sua posição de protagonismo na cena internacional.

André Pereira César
Cientista Político

Comments are closed.