O destino da Venezuela - Bolsonaro - 100 primeiros dias - Hold

O destino da Venezuela

O agravamento da crise na Venezuela representa o primeiro desafio real para a política externa do governo Bolsonaro. Ao fechar a fronteira com o Brasil para evitar a ajuda humanitária comandada pelos Estados Unidos, o presidente Nicolás Maduro se isola ainda mais. A medida gera todo tipo de rumor, piorando muito o já conturbado ambiente no hemisfério sul.

Com vastas reservas de petróleo e integrante da OPEP, a Venezuela é do interesse estratégico de muitos países. Por isso mesmo, desde 1922, quando foi descoberto seu primeiro poço petrolífero, o país sofre pressões internas e externas. Sob Maduro, cria do mítico Hugo Chávez, a crise econômica e social atingiu proporções inéditas, com escassez de alimentos, remédios e hiperinflação galopante.

Entre os rumores há o de uma iminente ação militar no país. Isso é pouco provável, por dois motivos básicos. Em primeiro lugar, desde o início do século XX o continente sul-americano registrou um limitado número de conflitos. A guerra do Chaco (1933-1935), entre Paraguai e Bolívia, talvez tenha sido o mais dramático. Registrem-se ainda a Guerra das Malvinas, em 1982, e alguns parcos confrontos de fronteira de curta duração como o ocorrido entre Peru e Equador em 1995. Muito pouco para período de tempo tão extenso.

O segundo motivo tem relação direta com o Brasil. O governo brasileiro já anunciou, por intermédio de alguns integrantes do primeiro escalão, que uma ação militar está descartada - e os americanos, em tese, precisariam do apoio militar do Planalto para efetivar a ação. A mais veemente fala contra a invasão partiu do vice-presidente Hamilton Mourão, que desde sempre postou-se desfavorável a medida.

Mourão, por sinal, reafirma seu protagonismo com a crise venezuelana. Ele representará o presidente Bolsonaro em reunião do Grupo de Lima, a ser realizada na Colômbia, para discutir a questão. A seu lado estará o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que vem mantendo postura discreta nos últimos dias.

No momento, há muitas questões em aberto. Como a população reagirá a mais essa atitude radical de Maduro? Terá o presidente "de fato", Juan Guaidó, condições políticas de enfrentar a situação? Qual será o comportamento das Forças Armadas? Por fim, qual será a reação de países que apoiam Maduro, em especial a Rússia?

A crise venezuelana é uma oportunidade para o governo Bolsonaro ganhar pontos como mediador qualificado na cena internacional. Além disso, a depender da evolução dos fatos, o Brasil poderá reforçar os laços diplomáticos com o governo Trump, como o desejam o Planalto e o Itamaraty. Os próximos dias serão decisivos e apenas uma coisa é certa - a Venezuela será outra após o processo em curso.

André Pereira César
Cientista Político

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