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Eleições e infraestrutura

Nada de novo no front – a situação sempre se repete. Durante o verão, cidades de todo o país, em especial da região Sudeste, sofrem com as fortes e recorrentes chuvas. A população é duramente afetada e os danos materiais são elevados. Em 2020, nada mudou. A comédia de erros segue seu ritmo.

As consequências da recente chuva em São Paulo são um claro exemplo dessa realidade e os números do caos falam por si só. Em menos de 24 horas, a capital paulista registrou 932 enchentes, 182 quedas de árvores, 166 desabamentos e 7,6 mil chamadas chegaram aos bombeiros.

Números de outra natureza ajudam a explicar esse quadro. Entre 2015 e 2019, a prefeitura deixou de gastar R$ 2,7 bilhões em obras para o controle de cheias na cidade. Dos R$ 3,8 bilhões previstos, apenas R$ 1,1 bilhão foram aplicados. Mais ainda, as ações de limpeza e desassoreamento do Rio Tietê, que transbordou em muitos pontos, caíram à metade em 2019.

Os gestores públicos atribuem boa parte da “culpa” do caos às mudanças climáticas, mas a questão é bem mais complexa. O problema passa diretamente por questões sociais, pelo déficit habitacional e pela falta de planejamento urbano - além da redução de investimentos no setor, conforme visto no parágrafo anterior. Nesses pontos, espera-se mais proatividade do poder público.

Qual será o impacto disso tudo nas eleições municipais de logo mais? Falamos aqui não apenas de São Paulo, mas também do Rio de Janeiro e Belo Horizonte, que igualmente têm sofrido com as chuvas.

Comenta-se que, em tese, o cidadão comum está mais interessado em política e, com o advento da internet e das redes sociais, tem mais acesso à informação. Cabe lembrar, porém, que as campanhas e as eleições se darão no segundo semestre, período de estiagem. Além disso, é do conhecimento geral que o eleitor tem “memória curta”, e o quadro desse verão tende a ficar (novamente) em segundo plano.

No caso das três capitais, o eleitor tenderá a se balizar pelo “conjunto da obra”. Assim, a desastrada gestão Crivella no Rio poderá vir a inviabilizar sua reeleição, caso ele dispute. Na capital mineira, o prefeito Kalil será cobrado por uma administração mediana e certamente enfrentará dificuldades. Por fim, em São Paulo, o PSDB será novamente o alvo a ser abatido, independentemente do candidato.

Um último comentário: chamou a atenção de muitos o silêncio do presidente Jair Bolsonaro após os alagamentos na capital paulista. O titular do Planalto perdeu uma boa oportunidade de se solidarizar com a população da maior cidade do país. Cabe lembrar que a política, desde sempre, é carregada de simbolismos. Jair Bolsonaro deveria ter tido a sensibilidade e a coragem, ainda mais por conta do cargo que ocupa, de se manifestar sobre a tragédia econômica e social ocorrida não só na capital como em diversas cidades do estado de São Paulo. A solidariedade e nobreza que se espera, nesse caso, devem se sobrepor à desavença e disputa de poder com o governador João Dória (PSDB).

André Pereira César
Cientista Político

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