Governo em construção: sucessão na Câmara - Hold

Governo em construção: sucessão na Câmara

Capítulo nº 12

É do conhecimento geral que a definição do presidente da Câmara dos Deputados, além dos demais cargos na Mesa Diretora e nas comissões, é de grande importância para qualquer governo. A disputa atual, já em curso, tem um delicadeza política extra. Uma legião de novos parlamentares tomará posse em fevereiro próximo, e seu posicionamento será decisivo para os rumos da Casa. O presidente eleito, Jair Bolsonaro, dependerá muito do resultado final. O eventual sucesso de sua gestão passa diretamente pela Câmara.

O atual presidente, deputado Rodrigo Maia (DEM/RJ), é candidato natural à recondução. Nas últimas semanas, as articulações em torno de seu nome têm ganhado força. A seu favor, Maia conta com a vasta experiência política, a boa capacidade de negociação, o bom trânsito junto a todos os partidos e a atual gestão, elogiada por muitos. Por outro lado, ele tem adversários em seu próprio partido, o DEM, que vê com reservas seu protagonismo. Também o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL/SP) está na trincheira adversária e teria afirmado inclusive que seu partido "jamais apoiará Maia". De todo modo, pode-se dizer que o atual presidente tem um leve favoritismo na disputa.

Também ganharam força as articulações em torno do deputado João Campos (PRB/GO). Integrante do chamado "baixo clero" da Casa, ele é bastante próximo de Jair Bolsonaro. Pastor evangélico e policial civil, ele integra duas frentes parlamentares de peso - a evangélica e a da bala. Defende uma agenda conservadora, o que está em linha com grande parcela da Câmara que assumirá em fevereiro. Parte do PRB, porém, quer discutir mais a fundo a apresentação de seu nome. Além disso, parlamentares mais experientes temem a repetição do "efeito Severino Cavalcanti" - em 2005, o então deputado pernambucano, membro do "baixo clero", foi eleito para a presidência e rapidamente afastado, acusado de corrupção. Campos, no caso, pode desistir da presidência para tentar outra vaga na Mesa.

O novato Kim Kataguiri (DEM/SP) também pretende entrar na disputa. Pesa contra ele o fato de ter apenas vinte e dois anos de idade e nenhuma experiência no parlamento. Soma-se a isso o fato de que o cargo de presidente da Câmara, é o segundo na linha sucessória, e a Constituição Federal dispõe que a idade mínima para o exercício da Presidência da República é de trinta e cinco anos o que, em tese, o impediria de assumir o cargo. O apoio a ele é restrito. Suas chances de sucesso são muito reduzidas.

A oposição, notadamente o PT, deverá lançar um nome para marcar posição. O partido, que tem hoje a maior bancada (57 deputados) tem essa prática desde o governo Fernando Henrique Cardoso.

Outros postulantes podem entrar na disputa, inclusive nomes que não apareceram até o momento no radar. O quadro pode mudar muito até o início de fevereiro.

A disputa relatada acima tem um elemento novo - a divisão no PSL. O partido de Bolsonaro elegeu 52 deputados, sendo 48 novos. O objetivo declarado é atrair ao menos quinze outros, para assim se tornar a maior bancada da Casa. No entanto, a briga pública entre Eduardo Bolsonaro e a novata Joice Hasselmann expôs a luta interna pelo poder. O embate, caso não seja solucionado a contento, impactará a sucessão na Câmara. As demais agremiações acompanham com atenção.

Independentemente do nome do próximo presidente da Câmara, o certo é que Bolsonaro precisará se aproximar dele. Negociar a agenda do Planalto será o prato principal desse cardápio. Do contrário, o novo governo começará com o pé esquerdo, sob o risco de isolar-se. Tudo o que Bolsonaro não precisa.

André Pereira César
Cientista Político

Texto publicado originalmente em 10/12/2018.

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