Governo em construção: o estilo Bolsonaro - Hold

Governo em construção: o estilo Bolsonaro

Capítulo nº 9

O processo de construção do novo governo tem deixado claro o estilo do presidente eleito. Ao contrário de seus antecessores, de José Sarney a Michel Temer, Jair Bolsonaro adota medidas e posições que muitas vezes se chocam com aquelas esperadas em um modelo presidencialista de coalizão.

A formação do ministério exemplifica à perfeição esse quadro. Ao contrário de atender as demandas dos partidos que poderão integrar sua base de sustentação, o presidente eleito tem privilegiado nomes de fora do circuito político tradicional. Assim, ganharam espaço personagens como Paulo Guedes, o futuro superministro da Economia, e Sérgio Moro, a vitrine maior da Operação Lava Jato.

Também ganha peso na nova gestão, integrantes do grupo de origem de Bolsonaro, os militares. O general Augusto Heleno, que ocupará o Gabinete de Segurança Institucional, é da extrema confiança de Bolsonaro. Outros militares de alta patente ocuparão postos chave na Esplanada a partir de janeiro próximo.

Mesmo as nomeações partidárias têm origem distinta do que se vê usualmente. Novos ministros como Teresa Cristina, da Agricultura, e Luiz Mandetta, da Saúde, foram indicados e bancados pelas frentes parlamentares que representam. Ambos são do DEM, mas responderão muito mais pelos setores ruralista e da saúde, respectivamente, do que pelos interesses do seu partido. Tanto que o atual presidente do DEM e prefeito de Salvador, ACM Neto, declarou publicamente que as indicações não são da cota do partido.

Essa abordagem do presidente eleito já desagrada aos partidos, que veem pouco espaço na nova administração, fato este que fez o Partido da República-PR, de Valdemar Costa Neto, liberar a bancada eleita para votar como quiser na gestão Bolsonaro. A disputa pela participação no governo deverá se dar, em especial, nos cargos de segundo e terceiro escalão. Uma situação de conflito pode se instalar dentro da base aliada a partir dessa realidade.

Dada essa situação, os postos de comando da Câmara dos Deputados e do Senado Federal tornam-se ainda mais estratégicos. Para fazer avançar sua difícil e impopular agenda (em especial a reforma da Previdência) e evitar as chamadas "pautas bomba", Bolsonaro precisará do apoio e da confiança dos presidentes das duas Casas. Nesse sentido, a manutenção de um parlamentar experiente como Rodrigo Maia à frente da Câmara pode se tornar necessária ao presidente eleito. Articulações para que isso ocorra já estão em curso.

E não é apenas a construção do novo ministério que traz novidades para a política brasileira. A comunicação de Bolsonaro igualmente é diferente da utilizada por outras lideranças do país. À moda Donald Trump, o presidente eleito utiliza as redes sociais para passar informações de grande importância para o país. A imprensa tradicional nitidamente perdeu espaço e precisará se adaptar rapidamente a essa nova realidade.

O "estilo Bolsonaro" dará certo? Difícil cravar uma aposta agora. O fato, porém, é que o presidente eleito testa os limites do presidencialismo de coalizão. Enquanto a opinião pública estiver a seu lado, o novo modelo trará resultados. Passada a lua de mel com o eleitorado, Bolsonaro será desafiado a mostrar força. Talvez aí ele busque sustentação no modo da tradição política brasileira.

André Pereira César
Cientista Político

Texto publicado originalmente em 27/11/2018.

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