Sucessão presidencial: terceira via congestionada - Política - Hold

Sucessão presidencial: terceira via congestionada

Apesar das diversas opções de nomes postos à mesa, a chamada “terceira via” ainda não conseguiu decolar. Faltando um ano para o primeiro turno das eleições presidenciais, o tempo começa a correr contra os adversários do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e do ex-presidente Lula (PT). A situação começa a incomodar.

Prévias no PSDB - a disputa interna no PSDB atrai a atenção do mundo político pois, em tese, o vencedor garantirá vaga no pleito do próximo ano. No entanto, o quadro não é simples. Independentemente do nome do vencedor, João Dória (SP) ou Eduardo Leite (RS), o partido sairá dividido das prévias.

Pior, o candidato tucano precisará tornar seu nome nacional (Dória e Leite são pouco conhecidos fora de seus estados) e construir alianças sólidas a partir de uma base de votos baixa - ambos têm cerca de 5% nas pesquisas. O desafio do PSDB apenas começou.

Fusão DEM-PSL - a aguardada fusão do PSL com o DEM, que será confirmada em breve, muda o cenário da centro-direita e impacta diretamente a terceira via. O novo partido deverá ter a maior bancada da Câmara dos Deputados e contará com o maior volume de recursos financeiros nas eleições de 2022.

Isso não quer dizer, porém, que a legenda terá automaticamente um candidato à presidência da República. O principal postulante, hoje, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM/MS), tem desempenho pífio nas pesquisas. Ele negocia agora com outro ex-ministro, Sérgio Moro, ainda em busca de uma agremiação e eterna opção do eleitorado conservador. O futuro do novo partido é uma incógnita.

Ciro Gomes - mesmo não sendo um integrante natural do grupo, o neopedetista tem transitado com desenvoltura na terceira via. Seu discurso se adaptou aos movimentos gerais da conjuntura política. À crítica feroz ao titular do Planalto, ele somou os ataques ao PT. Mesmo assim, o pré-candidato não consegue superar a faixa dos 10% das intenções de voto. A possibilidade de ter como vice o apresentador José Luiz Datena, hoje no PSL, é mais um laboratório para ser testado junto ao eleitorado.

O jogo do PSD - integrante do Centrão, o PSD se descola progressivamente de Bolsonaro e já se coloca como opção para a sucessão presidencial. O presidente do partido, Gilberto Kassab, joga abertamente e tem ao menos dois nomes na manga.

O principal deles é o do presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, ainda no DEM mas de malas prontas para o PSD. O senador é o “queridinho da hora” da terceira via, e tem inclusive se comportado como um postulante ao Planalto. A alternativa a ele é o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil - mas ele aparece mais como um nome para compor chapa. Kassab atua em todas as frentes e valoriza o passe do partido.

Senadores patinando - o bom desempenho na CPI da Covid e a consequente exposição na mídia dos senadores Alessandro Vieira (Cidadania/SE) e Simone Tebet (MDB/MS) não chegou ao eleitorado, segundo as pesquisas de intenção de voto. Os dois, que se apresentam como opções de seus partidos para a disputa sucessória, não pontuaram no último levantamento do Ipec, realizado em setembro. Com a CPI chegando ao fim, eles perderão espaço no noticiário. No limite, podem ser alternativas para a vice-presidência com algum candidato eleitoralmente mais robusto.

Considerações finais - a polarização entre o bolsonarismo e a esquerda representa o maior obstáculo para a terceira via se tornar eleitoralmente viável. A perda de musculatura política do atual presidente, porém, abre um flanco que o bloco pode explorar - o eleitor de Bolsonaro arrependido que rejeita Lula e o PT é o alvo imediato.

André Pereira César
Cientista Político

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