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Política como caso de polícia

Casas queimadas durante a noite, roubo de cofre, ameaças de todo tipo, xingamentos. Eventos como esses, dignos de um filme de gângster, estão sendo vividos nos últimos dias pela cúpula de um dos maiores e mais importantes partidos políticos do Brasil, o União Brasil. A briga interna pelo comando da legenda atingiu limites dramáticos.

Aos fatos. O União Brasil, fruto da fusão entre o DEM e o PSL, tinha no comando o deputado Luciano Bivar, que sempre esteve longe da unanimidade na legenda. Um movimento interno, ocorrido há pouco, levou a seu afastamento, e seu antigo aliado, o advogado Antônio de Rueda, assumiu a presidência. Tudo com o aval do ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, e do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, antigos caciques do DEM.

Apenas para relembrar, Bivar foi uma espécie de “dono” do PSL (similar a Valdemar Costa Neto no PL hoje) e foi um dos principais responsáveis pelo crescimento exponencial da legenda em 2018, passando de dois para 52 deputados. Mais ainda, ele trouxe para o partido, à época, o então candidato presidencial Jair Bolsonaro, vencedor do pleito daquele ano.

Sem uma mínima consistência programática (uma espécie de “partido ônibus”, na verdade), as limitações do PSL logo ficaram evidentes e, com a saída de Bolsonaro e de vários deputados da legenda, restou a Bivar a opção de se fundir ao DEM, que também estava rachado à época, por conta da eleição à presidência da Câmara dos Deputados, que colocou de um lado ACM Neto e de outro o então presidente Rodrigo Maia (que hoje está filiado ao PSD). O União Brasil (“Desunião Brasil” na visão satírica de alguns) é o resultado desse processo. Apesar de ter hoje quatro governadores, sete senadores e 59 deputados, além de três ministérios no governo Lula (PT), a convivência jamais foi pacífica e a crise eclodiu.

O partido, aliás, vive hoje uma situação peculiar, pois uma parte de seus membros (dentre eles deputados, senadores e governadores) exerce forte oposição ao atual governo enquanto a outra integra esse mesmo governo com cargos nos mais diversos escalões do poder. Essa situação por si só ajuda a explicar, em parte, o racha interno.

O ataque às casas de praia de Rueda e de sua irmã foi o ápice do momento vivido pelo grupo. As imediatas e duras respostas de Caiado e de outras lideranças mostram apenas que jamais existiu unidade na legenda. Eles se suportavam, mas a hora do divórcio (litigioso) chegou. Bivar, que obviamente alega inocência e de ser vítima de um complô, deverá ser no mínimo expulso do União Brasil.

Esse quadro pode ter impacto sobre as pretensões do partido a curto e médio prazos. O União Brasil trabalha para aumentar o número de prefeituras em outubro próximo - hoje, são 552 - e, mais ainda, conquistar as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado Federal no início do ano que vem com as candidaturas de Elmar Nascimento e Davi Alcolumbre, respectivamente. Em que condições políticas chegará nessas disputas?

Por fim, a crise vivida pelo União Brasil é um claro indicativo dos problemas do atual sistema partidário brasileiro. Partidos se unem por conveniências imediatas, legendas são criadas sem maiores obstáculos. Tudo gera mais descrença da opinião pública quanto aos valores da política. Um perigo para a já combalida democracia, que se vê ameaçada a todo instante.

André Pereira César

Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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