Para onde vai a terceira via? - Política - Hold

Para onde vai a terceira via?

A assim chamada “terceira via” - ou campo democrático - está na encruzilhada. Sem um projeto minimamente consistente, sem nomes fortes e desunido, os partidos que integram o grupo poderão desistir, em breve, do projeto. O eleitor, conforme indicam as pesquisas, não comprou a ideia.

Os números são claros. Segundo a mais recente pesquisa FSB/Pactual, os pré-candidatos do bloco, somados, atingem 17% das intenções de voto. Redução significativa em relação à pesquisa anterior, de março, quando as declarações de voto totalizavam 24%. Péssima notícia para as lideranças da terceira via.

O início da debacle do bloco foi a movimentação errática (e equivocada) do ex-ministro de Bolsonaro, Sérgio Moro, que trocou o Podemos pelo União Brasil e perdeu lugar no jogo sucessório. As pesquisas indicam que seus votos não foram para os demais nomes da terceira via, mas diluídos entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula (PT).

Pior, os partidos titubeiam na hora de definir seus representantes. O União Brasil insiste agora em seu presidente, Luciano Bivar (PE); o MDB está dividido entre lançar a senadora Simone Tebet (MS) ou apoiar um candidato com mais apelo eleitoral; o PSDB tem no ex-governador João Dória (SP) sua opção. Todos eles com reduzidíssima força junto ao eleitorado.

Por ora, ganha impulso a hipótese do bloco se aproximar do ex-ministro Ciro Gomes (PDT). A rigor, ele não faz parte do “ideário” da terceira via, mas igualmente faz forte oposição a Bolsonaro e a Lula. O cearense também tenta fugir da polarização, mas seu comportamento mercurial representa um obstáculo ao aprofundamento das conversas.

Exemplo claro das dificuldades de entendimento dentro do grupo se deu dias atrás, quando um jantar entre os pré-candidatos, patrocinado por Dória, foi cancelado por um simples motivo - falta de confiança no anfitrião. Como fazer todos os envolvidos sentar-se à mesa?

O tempo corre contra a terceira via e mais um lance, possivelmente o último, se dará em 18 de maio. Até lá, novos movimentos são esperados, mas as chances de algo se concretizar são remotas.

Por fim, há outro risco embutido no atual quadro. Sem uma candidatura minimamente competitiva na disputa pelo Planalto, o União Brasil, o MDB, o PSDB e o Cidadania poderão ver suas bancadas reduzidas na Câmara dos Deputados. Menos espaço na cena política, menos dinheiro para esses partidos.

O momento é de definição e, enquanto falta entendimento na terceira via, Bolsonaro e Lula caminham a passos largos rumo ao segundo turno.

André Pereira César
Cientista Político

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