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Opinião pública e mobilização

A mais recente pesquisa XP/Ipespe, realizada entre os dias 22 e 24 de setembro e divulgada na quinta-feira, 30 de setembro, reforça a percepção de que a musculatura política do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sofre lento e consistente processo de corrosão. O novo levantamento, apresentado justamente às vésperas da manifestação das oposições contra o governo, terá impacto relevante para o sucesso dos protestos?

Aos números. A pesquisa registra continuidade da tendência de crescimento das avaliações negativas de Bolsonaro, movimento que se repete desde novembro do ano passado. O levantamento aponta que 55% dos entrevistados veem o governo como “ruim” ou “péssimo”, maior índice da série histórica. O valor é um ponto percentual maior que o de agosto último, e 24 pontos maior que o de outubro de 2020.

A piora coincide com outras duas que já apresentaram correlação com a popularidade do presidente: a percepção de que a economia está no caminho errado (64%, oscilação de um ponto para mais) e a percepção de que o noticiário sobre o governo é majoritariamente negativo (61%, cinco pontos a mais que em agosto).

Na contramão, o grupo dos que dizem ter muito medo em relação ao surto de coronavírus é o menor desde março de 2020 - o grupo caiu de 39% em agosto para 28% neste mês. Esses onze pontos se dividiram entre os que dizem não estar com medo, que saltaram de 25% para 30%, e os que dizem estar com pouco medo, que passaram de 36% para 41%.

Quanto à sucessão presidencial, o ex-presidente Lula (PT) segue liderando a corrida. Ele registrou crescimento de três pontos percentuais, atingindo 43% das intenções de voto, quinze pontos à frente de Bolsonaro, que atinge 28%.

Na sequência aparecem o neopedetista Ciro Gomes, com 11%, João Dória (PSDB), com 5%, e Luiz Henrique Mandetta (DEM), com 4%.

Em cenário alternativo, no qual Doria é substituído por Eduardo Leite (PSDB) e são acrescentadas as candidaturas de Alessandro Vieira (Cidadania), Simone Tebet (MDB), José Luís Datena (PSL) e Sergio Moro (sem partido), Lula aparece com 42% e Bolsonaro com 25%. O segundo pelotão é liderado por Ciro Gomes (9%) e Moro (7%).

No levantamento espontâneo, Lula segue sua escalada, chegando a 30% - ele tinha 5% antes das decisões judiciais que devolveram sua elegibilidade -, e Bolsonaro atinge 23%, um ponto a mais que em agosto. Outros nomes somados alcançam 6%.

Os dados, em tese, estimulam os adversários do titular do Planalto a saírem às ruas contra o presidente. O sábado, 2 de outubro, será o primeiro teste do movimento, que tenta unir um leque mais amplo de forças políticas, sob o comando de partidos de esquerda e centro-esquerda - PT, PDT, PCdoB, PSOL, PSB, PV, Rede, Cidadania e Solidariedade comparecerão em bloco. Também deverão estar presentes representantes do DEM, MDB, PL, Podemos, PSDB, PSD, Novo e PSL. Algo mais consistente que os protestos de 12 de setembro, bastante esvaziados.

O quadro geral, porém, não é tão simples. A chamada “terceira via” não tem apenas Bolsonaro como alvo. Favoritos por ora na disputa, Lula e o PT igualmente estão no radar das legendas mais ao centro e centro-direita. Não por acaso, os dois principais postulantes nas prévias do PSDB, Dória e Leite, têm concentrado parte dos ataques no petismo. Outros pré-candidatos com perfil semelhante ao dos tucanos adotarão a mesma postura. Trata-se de um embate que tende a ganhar corpo ao longo dos próximos meses.

Enfim, a nova pesquisa estimula os adversários de Bolsonaro, mas não garante o êxito pleno das manifestações de logo mais. Há muitos detalhes e nuances no processo sucessório que apenas se inicia.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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