Milei e Maduro: a América do Sul em seu labirinto - Política - Hold

Milei e Maduro: a América do Sul em seu labirinto

O continente sul-americano alterna períodos de relativa tranquilidade com momentos de turbulência política, econômica e social. Hoje, assistimos ao Equador enfrentando uma grave crise de segurança pública e questões localizadas em um ou outro país. No entanto, dois atores merecem atenção especial por suas ações na região - Javier Milei de um lado e Nicolás Maduro do outro.

Ocupando há poucos meses a Casa Rosada, o argentino Milei já imprimiu sua marca. Apresentou uma espécie de “plano motosserra” de corte de gastos públicos mas, sem base no Parlamento, negocia com dificuldades com os governadores. Mais ainda, abriu frentes de conflito com “comunistas” (como o governo brasileiro) e outros adversários, em geral imaginários. Quase um bufão.

A segurança pública representa um nó para sua administração. Rosario, importante cidade, vive uma onda de violência sem precedentes, que levou o governo a defender a utilização de uma Lei Antiterrorismo para combater o crime, e uma intervenção federal já teve início. Na esteira de El Salvador, onde o presidente Nayib Bukele adotou medidas severas contra organizações criminosas, teremos um movimento “bukelista” na gestão Milei? Não seria surpreendente.

Outro ponto importante na atuação do atual presidente é a relação com os Estados Unidos. Subordinado ao exército, o Corpo de Engenheiros norte-americano assinou memorando de entendimento com Milei que permitirá aos engenheiros militares daquele país atuar no trecho argentino da hidrovia Paraná-Paraguai, a maior da América Latina. Os EUA reforçam sua presença na região, chancelados pelo ocupante da Casa Rosada.

A mais recente polêmica de Milei envolve a outra personagem desse artigo, o venezuelano Nicolás Maduro. Trata-se de uma crise diplomática em andamento. Após o governo argentino ter confiscado e entregue aos Estados Unidos um Boeing da Venezuela a pedido do governo estadunidense - alegando suposta ligação da aeronave com terroristas do Irã -, Maduro anunciou o fechamento do espaço aéreo de seu país a qualquer voo oriundo da Argentina, que anunciará medidas de retaliação. A decisão afeta em especial a já combalida Aerolineas Argentinas, que tem boa parte de suas rotas internacionais passando por aquela área.

Ainda sobre Maduro, as anunciadas eleições, que ocorrerão em breve, não deverão passar de um teatro, mesmo com a presença de observadores internacionais. Nesse ponto, o atual governo Lula (PT) se furta em tomar uma posição clara. Sempre com declarações dúbias, fica em cima do muro, bem ao famoso estilo tucano nos idos dos governos Fernando Henrique Cadoso, que acabou virando piada até de programa televisivo. O terceiro mandato presidencial está praticamente assegurado, apesar dos protestos da oposição - e da grave crise econômica e social que o país atravessa.

Apesar de reforçar publicamente a disposição de não tentar tomar a região de Essequibo, na Guiana, Maduro segue de olho nas reservas de petróleo e minérios que existem ali. A situação já esteve mais tensa, mas o quadro de incerteza continua.

Por fim, assim como Milei se aproxima dos norte-americanos, Maduro reforça laços com a Rússia. Recentemente, ele recebeu o chefe da diplomacia daquele país, Sergei Lavrov, que classificou a Venezuela como um dos parceiros “mais confiáveis”. O reforço de acordos bilaterais esteve em pauta.

Milei e Maduro representam as duas faces da mesma moeda. Dois extremos que, de algum modo, acabam por se encontrar, colaborando para tornar o continente mais instável.

André Pereira César

Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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