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Julgando o juiz

Um importante movimento político está em curso, com consequências para o cenário nacional. O senador Sérgio Moro (União Brasil/PR) poderá ter o mandato cassado em breve e os partidos já registram disputas internas visando uma possível eleição suplementar para a vaga.

Aos fatos. O ex-ministro da Justiça do governo de Jair Bolsonaro (PL), que ganhou projeção nacional ao conduzir os trabalhos da Operação Lava Jato, está sendo julgado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Paraná por abuso de poder econômico na pré-campanha de 2022. À época, Moro estava filiado ao Podemos e cogitava da possibilidade de disputar a presidência da República. A ação contra o senador foi patrocinada pelo PT e pelo PL - uma inusitada aliança entre lulistas e bolsonaristas, com prazo para chegar ao fim.

No mundo político, é tido como praticamente certo que o senador perderá a cadeira. Mesmo entre seus poucos aliados a avaliação é a mesma, tanto que a esposa do ex-ministro, a deputada federal Rosângela Moro (União Brasil/SP), transferiu seu domicílio eleitoral para o Paraná - certamente de olho na eleição suplementar para a vaga. O jogo já está sendo jogado em família.

Como dito acima, os partidos já se mobilizam pela cadeira. O PT do Paraná, por exemplo, registra uma disputa interna que já deixou sequelas. De um lado, a presidente nacional da legenda, Gleisi Hoffmann, se movimenta com o apoio da estrutura partidária, mas o deputado Zeca Dirceu, também está no páreo. Uma briga caseira que vai ganhando escala muito em função dos apoios na eleição municipal, posto estarem em lados opostos no apoio aos candidatos à prefeitura de Curitiba. Em público os dois se tratam com cordialidade, mas é notório que a temperatura na agremiação está subindo. De outro lado, o PT paranaense perdeu o ex-governador e ex-senador Roberto Requião, que lutava para ser o indicado à vaga ao senado. Desfiliou-se atirando para todos os lados.

O PP igualmente tem seu postulante, o experiente Ricardo Barros. Dado o perfil do eleitor paranaense, mais conservador, são reais as chances de que ele obtenha êxito na possível disputa. Na mesma faixa programático-ideológica, seu principal adversário deverá ser o ex-deputado Paulo Martins, do PL.

Quanto a Moro, sua situação atual levanta uma reflexão importante. Alçado à condição de herói nacional no auge da Lava Jato (a imagem de Super Homem vem à memória), com direito ao "morobloco" no carnaval carioca e boneco gigante em Olinda-PE, o ex-ministro e ex-juiz acreditou na mitologia criada em torno de sua figura. O resultado está aí. Isolado entre seus pares no Senado Federal, abandonado por seus pares na Justiça, pela mídia (inclusive por renomados jornalistas que o defendiam diuturnamente, com a publicação de livros, inclusive) e por boa parte da classe artística (que no auge posavam para fotos e exibiam faixas e cartazes do "supermoro"), e sem o menor lastro político, ele tornou-se uma espécie de fantasma ainda com mandato. A notoriedade pode ser fugaz, como se vê.

Enfim, o mundo da política pede passagem e o caso Moro é um exemplo claro disso. Rei morto, rei posto. A cassação do mandato do ainda senador sepultará de vez o legado dos “super-heróis” da Lava Jato. O resto é história.

André Pereira César

Cientista Político

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