Eleições 2022: o som e a fúria - Política - Hold

Eleições 2022: o som e a fúria

Faltando menos de duas semanas para o primeiro turno, o momento atual da disputa pelo Planalto está sendo marcado pela presença do som e da fúria nas duas principais candidaturas. As últimas pesquisas apontam boa vantagem do ex-presidente Lula (PT), o que tem levado o presidente Jair Bolsonaro (PL) a elevar o tom do discurso.

A recente viagem internacional de Bolsonaro teve a presença da fúria. Em Londres, durante os funerais da rainha Elizabeth II, ele mobilizou seus apoiadores e atacou seu adversário. Já em Nova York, a Assembleia Geral da ONU serviu de palanque. Saiu o presidente, entrou o candidato.

A rigor, as manifestações do titular do Planalto demonstraram seu desapego à liturgia do cargo. Sem respeito ao luto dos ingleses e fugindo ao protocolo da ONU, ele apenas piorou sua já manchada imagem internacional. Bolsonaro tentou marcar gols no exterior, mas acabou gerando efeito contrário. O abismo do isolamento aumentou.

No campo da oposição, o petista tem o som como marca dos últimos dias. Ao reunir e conseguir o apoio de oito ex-candidatos à presidência, Lula avançou com êxito peças importantes no tabuleiro sucessório - uma frente ampla em defesa da democracia está em formação. A presença do ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, em especial, foi bem vista pelo mercado.

O comando de campanha de Lula tenta agora aproveitar o momento para atrair o chamado “voto útil”, em especial dos eleitores de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB). Operação delicada que, conduzida de maneira incorreta, pode gerar ruídos desnecessários na reta final do primeiro turno.

A nota fora do tom ficou por conta do ex-presidente Michel Temer (MDB). Durante evento promovido pelos jornais O Globo e Valor Econômico, ele defendeu o estabelecimento de um grande pacto nacional, com o futuro mandatário chamando todas as forças políticas (governadores, chefes de Poderes, oposição e sociedade civil organizada) para trabalhar juntos em prol do Brasil. Indo além, Temer cogitou da possibilidade de uma “anistia” geral logo após o pleito, em decorrência de supostos crimes praticados pelo atual grupo no poder. A pergunta que fica no ar é clara - o ex-presidente mandou algum recado? Caso a resposta seja “sim”, para quem?

O que se espera, nos próximos poucos dias de campanha, é o aumento dos ataques de Bolsonaro e seus aliados e apoiadores a Lula, à imprensa e ao sistema eleitoral. A campanha do petista, por sua vez, precisará conter o excesso de otimismo. Nada está decidido.

PS. Clássico de William Faulkner, Nobel de Literatura, “O som e a fúria” (1929) é um dos grandes romances do século XX. Ambientado no sul dos Estados Unidos da América, utiliza-se da técnica do fluxo de consciência, criando um ambiente único para o leitor.

André Pereira César

Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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