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Apagão e política

Era inevitável. O apagão ocorrido em São Paulo, que enfrentou uma tempestade na sexta-feira, 3 de novembro, já repercute no mundo político. Governo e oposição estão mobilizados em torno da questão, que poderá inclusive ter impacto nas eleições municipais do próximo ano.

Apenas para lembrar, a tormenta que se abateu sobre a maior cidade do país (e também sobre a região metropolitana) gerou o caos, com cerca de quatro milhões de pessoas afetadas - e, até a noite de segunda-feira, 6 de novembro, mais de 300 mil imóveis continuavam sem energia. Prejuízo incalculável para famílias e comerciantes.

A concessionária italiana Enel, controladora da Eletropaulo desde 2018 e responsável pelos serviços de distribuição de energia, tenta se explicar, sem sucesso. Diretores da companhia deverão ser convocados em breve para prestar depoimento ao Congresso Nacional. Fala-se ainda na instalação de uma CPI. Prato cheio para os parlamentares de oposição do governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) e ao prefeito Ricardo Nunes (MDB).

Mais ainda, a secretaria Nacional do Consumidor do ministério da Justiça notificou a empresa exigindo explicações. O próprio ministro Flávio Dino (PSB/MA) havia antecipado esse movimento. O governo federal deve manter prudência com relação à questão, porém, para evitar que o imbróglio respingue no Planalto.

No âmbito da política paulistana, o prefeito Ricardo Nunes, que disputará a reeleição, e que no último domingo, no auge da crise, assistia tranquilamente o GP de Fórmula 1 em Interlagos, afirmou que o contrato de privatização “foi mal feito” e jogou a responsabilidade para o governo federal. O clássico jogo de empurra.

Nunes, porém, tem grande participação na história. A queda de árvores em cima da rede elétrica por toda a cidade foi um dos elementos centrais para o ocorrido - muitas dessas árvores condenadas, diga-se. A manutenção, por parte da prefeitura, foi no mínimo incompetente. O poder público errou feio.

Os adversários do prefeito igualmente se mexeram. O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL/SP), pré-candidato à prefeitura, criticou aquilo que considerou “inação” de Nunes. Os também deputados federais Kim Kataguiri (União Brasil/SP) e Ricardo Salles (PL/SP) sinalizaram que explorarão o ocorrido.

O ex-secretário de Comunicação do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Fábio Wajngarten, afirmou nas redes sociais que “em teoria, a privatização é maravilhosa. Bairros inteiros de São Paulo estão no escuro há mais de 30 horas”. Ataques de todos os lados.

Para o cidadão-eleitor, o que importa é a solução do caso, não importando quem resolverá o problema. Ao mundo político será necessário calibrar o discurso, sob risco de parecer oportunismo. Afinal, o ano eleitoral se aproxima.

André Pereira César
Cientista Político

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