A hora e a vez de Jair Bolsonaro - Política - Hold

A hora e a vez de Jair Bolsonaro

Desde ontem, o mundo político, a imprensa e a opinião pública em geral voltaram suas atenções para a Operação Tempus Veritatis da Polícia Federal, que teve como principal alvo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Muito já se falou sobre o caso, e aqui focaremos alguns aspectos específicos.

. A princípio, Bolsonaro e os demais envolvidos, como o general aposentado Augusto Heleno e outros militares de alta patente e o ex-ministro Anderson Torres, sofrerão severas sanções legais. A questão é o timing do processo - mas tudo deverá estar decidido em breve;

. O ex-presidente já recebe (e deverá continuar recebendo) apoio incondicional de seus apoiadores mais radicais, uma fração limitada, mas barulhenta do eleitorado. As redes sociais de imediato registram esse fato, e a questão é se ocorrerão manifestações nas ruas, ao menos nas grandes cidades. A conferir;

. Já setores de centro-direita mais moderados, com viés antipetista e antilulista, mas não totalmente alinhados ao bolsonarismo, deverão progressivamente se afastar do ex-presidente. Será natural, nesse caso, a busca por um novo nome que represente esse grupo. Afinal, a política não comporta vácuo;

. Em números. Uma pesquisa do instituto Quaest mostrou que a operação da PF alcançou 56 milhões de perfis nas redes sociais. Desse total, 58% continham menções críticas a Bolsonaro. Foi o segundo evento político mais comentado nos últimos doze meses, ficando atrás apenas dos atos golpistas de 8 de janeiro, que tiveram alcance de 80 milhões de internautas em poucas horas;

. No âmbito do Congresso Nacional, os parlamentares bolsonaristas mais extremados, como os deputados Eduardo Bolsonaro (PL/SP), Carlos Jordy (PL/RJ) e Nikolas Ferreira (PL/MG) e o senador Rogério Marinho (PL/RN), deverão se isolar na defesa de seu líder. Outros deputados e senadores antes simpáticos a Bolsonaro, mas não tão ligados ao “mito”, se afastarão ao longo do tempo, muito em função de sobrevivência política.

. O PL, partido do ex-presidente e de Valdemar Costa Neto, preso na operação, fica na berlinda. A legenda, maior bancada da Câmara dos Deputados, poderá perder quantidade significativa de membros na próxima janela partidária, que ocorrerá entre 7 de março e 5 de abril;

. Os potenciais impactos da operação nas eleições municipais do segundo semestre ainda são uma incógnita, mas é certo que aliados de agora do PL, como o prefeito paulistano Ricardo Nunes (MDB), começam a refazer seus cálculos políticos. O “preço” do apoio subiu de patamar;

. Quanto à operação da PF em si, chamou a atenção a ausência do nome do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP/AL), na versão da chamada “minuta do golpe” que propunha a prisão do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD/MG). Pela lógica, os comandantes das duas Casas estariam no mesmo barco. Ou não?

. Por fim, os possíveis ganhos políticos do governo Lula (PT) são limitados. Os últimos eventos não gerarão novos apoiadores ao presidente e, dependendo da evolução do caso, a agenda Legislativa do Planalto poderá ficar ameaçada.

. Já se adiantando, o presidente Lula se reuniu na manhã desta sexta-feira, 9 de fevereiro, com o deputado Arthur Lira. Apesar de tudo, a roda continua girando.

André Pereira César

Cientista Político

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