Venezuela e Guiana: América do Sul sob ameaça? - Linha de Pensamento - Hold

Venezuela e Guiana: América do Sul sob ameaça?

Passado o plebiscito na Venezuela que aprovou a criação de um novo estado em Essequibo, os fatos se sucedem. O presidente Nicolas Maduro afirma que os Estados Unidos não devem se envolver na questão e mostra um mapa com a região já anexada, enquanto o governo da Guiana anuncia que recorrerá ao Conselho de Segurança da ONU. A crise no continente sobe um degrau.

Aos fatos. A região em disputa é rica não apenas em petróleo (descoberto apenas em 2015), mas também minérios como urânio, ouro e lítio - esse último talvez o grande tesouro do século XXI. O contencioso mal construído, que se arrasta há quase duzentos anos, ganha força extra. Mais ainda, Maduro aparentemente está se utilizando do embate para tentar reverter a perda de capital político de seu governo, fruto da crise econômica no país. No limite, pode declarar uma espécie de “estado de emergência” que suspenderia as eleições previstas para 2024.

A rigor, o risco de um conflito é absolutamente remoto, ao menos a curtíssimo prazo. Maduro tem plena noção (espera-se) que a Guiana, caso atacada, receberia o apoio imediato da comunidade internacional, Estados Unidos à frente. Isso sem falar nas sanções que abalariam ainda mais a já combalida economia venezuelana. Mesmo assim, a burocracia do país, e também parte da opinião pública, já estão envolvidas no processo de anexação de Essequibo.

“Tudo o que a região não precisa é de confusão”, disse o presidente Lula (PT). Para o Brasil, a crise ora em curso pode se tornar uma grande oportunidade para reforçar a liderança do país no continente, e mais além. O campo diplomático já se move - em especial, o ex-ministro das Relações Exteriores e assessor especial Celso Amorim esteve recentemente em Caracas para discutir a situação. A princípio, o resultado das conversas foi nulo, mas um canal de negociações foi aberto.

Como medida de precaução, o governo brasileiro enviou blindados para a fronteira com a Venezuela. Decisão correta, dado o comportamento mercurial do presidente daquele país. Toda cautela é pouca no momento.

No cenário mais extremo, uma crise humanitária seria praticamente inevitável. As fronteiras brasileiras receberiam milhares de pessoas em fuga, gerando o caos - situação já vivida poucos anos atrás em Roraima, que produziu um grande trauma na população.

Retórica, blefe ou desejo real de ação? Em um mundo já conflagrado, a movimentação da Venezuela apenas piora a cena geral. No caso específico, o Brasil está diretamente envolvido, como liderança regional e como país fronteiriço. Toda negociação se faz necessária.

André Pereira César

Cientista Político

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