O significado das mudanças no BRICS - Economia - Hold

O significado das mudanças no BRICS

A reunião do BRICS em Joanesburgo, África do Sul, talvez tenha sido a mais importante do bloco desde sua fundação, em junho de 2009. Nas palavras do próprio presidente Lula (PT), “a reunião do BRICS é uma das reuniões mais importantes que eu já participei nesses três mandatos. É como ver um filho crescer.” Seis novos países passarão a integrar o grupo a partir de 2024 e as discussões em torno de uma moeda comum para as transações comerciais avançaram.

No caso da moeda de pagamentos, a visão geral entre os participantes do encontro é a de que uma moeda comum para transações comerciais entre os integrantes do bloco reduziria as vulnerabilidades dessas nações. A ideia é iniciar o mais cedo possível estudos para se avaliar as reais viabilidades da proposta. Trata-se de uma complexa engenharia financeira, que não pode ser colocada em prática a curto e médio prazos.

Das dezenas de países interessados em ingressar no bloco, seis foram aceitos - Arábia Saudita (maior exportador de óleo cru do mundo), Emirados Árabes Unidos (outra potência petrolífera), Irã (dono da maior reserva de gás natural do planeta), Egito (importante liderança regional), Etiópia (de alguma forma equilibra a complicada região do Chifre da África) e Argentina. No caso desse último, que enfrenta grave crise econômica, é do interesse dos vizinhos, Brasil incluído, que não vá a bancarrota, pois os efeitos de uma quebra possivelmente agravarão a economia sulamericana como um todo.

Apenas para registrar, com a nova configuração o bloco representará 36% do PIB global em paridade de poder de compra e 46% da população mundial. Números nada desprezíveis, mas que não respondem à principal questão - por serem tão diversos, eles atuarão realmente unidos nos grandes debates e embates do planeta?

De sua parte, o Brasil, ao aceitar a ampliação do bloco (a princípio, o governo brasileiro tinha restrições), tenta estabelecer uma negociação - em troca do aumento do BRICS, solicita o apoio dos pares, em especial a China, para conseguir um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Uma velha demanda, que remete ao final do século passado.

Como se sabe, as nações não têm amigos, têm interesses. Desse modo, não surpreenderá algum tipo de reação dos Estados Unidos, europeus e demais aliados ao crescimento do BRICS - ainda mais quando se leva em consideração a invasão da Ucrânia pela Rússia, sem falar na pressão chinesa sobre Taiwan. Pode-se pensar, por exemplo, no aumento da instabilidade na já conturbada América Latina ou na África, continente que sempre assiste a tentativas de golpe de Estado e hoje é dominado pelos investimentos da China. A conferir.

Para concluir, é carregado de simbolismo o fato de que uma das fundadoras do bloco, a Índia, ter se tornado o primeiro país a pousar no chamado “lado negro da Lua”. Um feito histórico, que reforça o potencial da nação - e, inevitavelmente, tem impacto positivo no BRICS como um todo.

André Pereira César

Cientista Político

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