Crisis? What crisis? - Economia - Hold

Crisis? What crisis?

Crise? Que crise? As recentes declarações do presidente Lula (PT) e as consequências delas remetem à fala do então primeiro-ministro britânico James Calaghan que, durante um período de turbulência em seu governo, questionou a crise que vivenciava. A célebre frase, por sinal, foi título de um clássico disco do Supertramp de 1975.

Voltando ao Brasil, o fato é que há mais espuma que substância. A rigor, o titular do Planalto apenas externou algo que que se sabe há tempos - uma meta de déficit fiscal classificada como "realista" de ao menos 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB) para 2024, o que, na prática, representa um revés para o discurso de austeridade e ajuste das contas públicas até então propagada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT/SP).

Para relembrar. Na última sexta-feira, 27 de outubro, o presidente da República declarou que dificilmente o governo alcançará o déficit zero em 2024. Em resposta, Haddad, desconfortável, após responder aos repórteres seguidas vezes sobre a mesma pergunta, encerrou uma entrevista coletiva. Durante a entrevista, não reclamou e não buscou imputar culpa ou responsabilidade ao presidente Lula e nem a outro membro do governo pela polêmica declaração. Respondeu a tudo o que foi perguntado, mas não a maneira esperada. Assim, não gerou manchete e por isso foi duramente criticado pela grande imprensa que viu no ato de encerramento, uma crise no coração do governo que, convenhamos, não existe.

Lula, no comando do seu terceiro mandato à frente do Planalto, antevendo movimentos de desestabilização política, chamou para si a responsabilidade sobre esse tema. Não terceirizou a tarefa, como se observou em governos anteriores. Na visão de Lula, uma meta em torno de 0,5% a 0,25% seria mais fácil de lidar com a opinião pública do que não se atingir a meta de 0%. Críticas sempre virão e o mercado econômico/financeiro de toda forma, nunca estará satisfeito, independentemente do resultado.

Tanto que o mercado oportunista aproveitou a oportunidade e especulou (bolsa caiu e o dólar subiu). Setores da imprensa saíram em defesa da meta original, criticando Lula e seus aliados mais próximos. Nada de novo nessa seara, com visões distintas de parte a parte. Jogo jogado, como se diz.

O movimento mostra que a pregação de uma ala do governo com o apoio de Lula, contra o déficit zero defendido por Haddad ganhou terreno em especial no Congresso Nacional, apesar da nota divulgada pelo presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD/MG), que saiu em apoio ao ministro. Coisas da política.

Importante dizer que no atual governo, Lula nutre profundo respeito por três ministros e jamais tomaria uma atitude ou teceria um comentário sem antes acertar todos os detalhes. Fazem parte dessa seleta lista o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento Geraldo Alckmin (PSB), a ministra do Planejamento Simone Tebet (MDB/MS), e Fernando Haddad, ministro da Fazenda. Então, fica a pergunta: Crise? Que crise?

A verdade é que o governo, que vive o gigantismo de uma coalizão pouco consistente, passa por mais um momento de ajustes políticos e de metas. De um lado, há o União Brasil de ACM Neto. De outro, o PSB do vice-presidente Geraldo Alckmin e, no meio de tudo isso, PSD, PP, Podemos, Republicanos e parte do PL de Valdemar Costa Neto. Como conciliar as partes e se sentar à mesa para negociar? Eis o desafio de Lula.

Qual o futuro desse processo? Difícil dizer, mas a tendência é clara - o Planalto colocará limites aos desejos de parte do governo, equipe econômica em especial.

Haddad, menino dos olhos e a grande aposta de Lula para 2026, sai blindado dessa “crise interna” e conta com o respaldo do próprio presidente para a continuidade na implementação e aprovação de projetos para recuperação da economia. A conferir.

André Pereira César

Cientista Político

Alvaro Maimoni

Consultor Jurídico

Comments are closed.