Bolsonaro, Petrobras e caminhoneiros - Economia - Hold

Bolsonaro, Petrobras e caminhoneiros

Em recente artigo publicado em nosso site, afirmamos que o apregoado liberalismo e independência de Jair Bolsonaro poderiam ter limites claros. A recente intervenção do presidente na política de preços da Petrobras, vetando o reajuste do valor do litro do diesel, evidenciou esse quadro. A decisão levantou muitas dúvidas entre os agentes do mercado, que já desconfiam das intenções de Bolsonaro.

A medida, segundo as informações oficiais, teria como objetivo atender aos caminhoneiros, que ameaçavam repetir a greve do ano passado. O remédio, ao final, foi amargo. As ações da Petrobras despencaram na bolsa e a empresa perdeu mais de R$ 32 bilhões somente na última sexta-feira, 12 de abril.

Mas não foi só. A pressão dos caminhoneiros está levando o governo a estudar outras medidas. Entre elas estão o aumento de vinte para quarenta pontos no limite de infrações permitidas na CNH e mudanças no valor do frete, ideia também defendida pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina.

O cancelamento do reajuste no valor do diesel trouxe lembranças do governo Dilma e insegurança aos parcos investidores de plantão. As consequências da decisão do Planalto ainda estão por ser conhecidas em sua totalidade. Por ora, nota-se que boa parte do mercado, que apoiou a candidatura Bolsonaro em 2018, está no mínimo ressabiada.

Uma última questão: como fica o ministro da Economia, Paulo Guedes, após esse episódio? O fiador da agenda econômica, ao que tudo indica, tem autonomia limitada no governo Bolsonaro. Estará o "posto Ipiranga" disposto a ser desautorizado novamente pelo presidente? A vida do ministro na atual gestão poderá ser mais curta do que se imaginava.

Em maio de 2018, o então presidente Michel Temer foi emparedado pelos caminhoneiros. Politicamente enfraquecido e em fim de mandato, o emedebista tinha poucos recursos em mãos para conter o movimento. Agora, a situação é diferente. Bolsonaro, em início de governo, em tese teria capital político para evitar pressões. No entanto, o atual presidente ante uma suspeita de movimento grevista abriu a guarda, cedeu e sinalizou para outros setores que pode recuar, caso pressionado. Uma péssima reação do Planalto com consequências ainda a serem avaliadas.

André Pereira César
Cientista Político

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