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Diário da transição: dia de cão em Brasília

Terça-feira, 13 de dezembro. Brasília contabiliza os prejuízos e as imagens ficarão na memória de quem viveu e/ou viu o ocorrido. Vestidos com camisetas da seleção canarinho e com camisetas com o nome e figuras do presidente Jair Bolsonaro (PL), dezenas de extremistas que apoiam o atual governo queimaram carros, ônibus, tentaram invadir a sede da Polícia Federal, cercaram um shopping center e depredaram a 5ª Delegacia de Polícia, levando quem estava lá dentro ao desespero. Vídeos mostrando o pânico das pessoas circulam pela internet. Um verdadeiro ato de terrorismo contra a democracia.

Aos fatos. Tão logo encerrada a cerimônia de diplomação do presidente eleito Lula (PT) e do vice Geraldo Alckmin (PSB) no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro Alexandre de Moraes, atendendo pedido da Procuradoria Geral da União-PGR, determinou a prisão temporária de José Acácio Serere Xavante, por suspeita de ameaça de agressão e perseguição contra o petista. Cacique Serere Xavante, como é conhecido, é figura constante em protestos que pedem intervenção militar, e chegou a afirmar que Lula não tomaria posse.

A senha estava dada. Convocados pelas redes sociais, bolsonaristas se espalharam pelo centro da capital federal, dando início ao quebra-quebra que deixou a população em pânico. Policiais federais e militares entraram em ação com gás lacrimogêneo e balas de borracha apenas para defender o prédio da PF e o hotel onde Lula e Alckmin estão hospedados. Com relação à depredação de outros prédios, veículos particulares e ônibus, assistiram passivamente a destruição desses bens. O conflito estava armado.

Aliás, a demora na reação das autoridades e das forças de segurança para prisão, dispersão dos vândalos e combate aos incêndios em carros e ônibus, é uma das principais queixas no dia de hoje.

A tática utilizada era similar à do black bloc. Mais ainda, em poucas ocasiões Brasília viveu um momento caótico semelhante. Saltam na memória a manifestação contra o governo Sarney, no final de 1986, com depredação, saques e veículos incendiados no centro da cidade - o chamado “badernaço”; a batalha campal após o show da Legião Urbana no estádio Mané Garrincha, com centenas de feridos; e o cerco ao Congresso Nacional em junho de 2013, na esteira das manifestações daquele período. A noite de segunda-feira ganhou seu lugar (infame) na história.

Hora antes, o futuro ministro da Justiça, Flávio Dino, havia concedido entrevista na qual deixava claro que aqueles que têm ameaçado a democracia serão punidos com rigor. Em linha com ele estava o ministro Moraes, que em seu discurso durante a cerimônia de diplomação afirmou que seguirá atuando de forma rígida na identificação de extremistas que atentem contra o Estado Democrático de Direito. O desafio está posto para as autoridades.

O que se viu, em suma, foi um ensaio de como será a atuação de uma minoria barulhenta, feroz e organizada contra o futuro governo. Uma oposição jamais vista no Brasil, disposta a desafiar os limites da democracia. Um embate entre civilização e barbárie.

Será mais um duro teste para as instituições. Na prática, uma espécie de terceiro turno está em curso.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

P.S. – Até o momento nenhum desses terroristas foi identificado e preso.

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