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Governo Bolsonaro sem Bolsonaro?

Em artigo publicado em nosso site na última terça-feira (9), mostramos que o modus operandi do presidente Jair Bolsonaro segue o mesmo desde a posse. Nesses 100 dias de mandato, ele tem falado pouco com as lideranças partidárias e o Congresso Nacional. A nomeação de Abraham Weintraub para o ministério da Educação apenas reforça essa percepção.

Os parlamentares, por sua vez, têm em mãos instrumentos para responder aos movimentos do Planalto e já estão utilizando-os. Um deles é o estabelecimento de uma agenda legislativa paralela à do governo. O retorno da proposta de reforma tributária é um exemplo bem acabado dessa reação.

Também o pacote anticrime, apresentado com toda pompa e circunstância pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro, entrou no ritmo do Congresso. Essa manobra diz muito. Os parlamentares definirão o que avançará e o que não, e também como se dará a tramitação. No atual estágio das relações institucionais, só resta ao governo assistir de camarote.

Por fim, há o risco em torno das chamadas "pautas-bomba". Sem um mínimo de articulação política, o Planalto tende a ser pressionado o tempo todo. Isso se dá no debate em torno do repasse anual de 11 bilhões de reais da União para os Estados como compensação por perdas na Lei Kandir, por exemplo. O ministro da Economia, Paulo Guedes, foi chamado à negociação.

Posto isso, o que se vê é um governo que perde musculatura política e um presidente que governa mais via redes sociais do que pelos caminhos tradicionais. A efetividade dessa prática é, no mínimo, limitada na vida real da política.

O descolamento do Planalto com o Parlamento que já era distante só faz aumentar. A seguir nessa toada, o presidente da República pode vir a perder de vez o capital político conquistado na eleição, deixando as rédeas do país nas mãos de deputados e senadores. Teríamos assim um governo Bolsonaro sem Bolsonaro.

André Pereira César
Cientista Político

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