A princípio, a disputa eleitoral no Rio de Janeiro será marcada pelo embate entre o presidente Lula (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), hoje as duas principais lideranças políticas do país. Os demais postulantes, por ora, são meros coadjuvantes. Para o titular do Planalto, a eventual vitória no berço do bolsonarismo será carregada de simbolismo.
O favoritismo do atual prefeito, Eduardo Paes (PSD), é claro. Bacharel em Direito, ex-deputado federal e ex-figurante de novelas da Rede Globo, torcedor fanático do Vasco e sambista apaixonado, ele é uma espécie de Zelig, personagem do clássico de Woody Allen - entrou na política pelas mãos do ex-prefeito César Maia, foi ligado ao ex-governador Sérgio Cabral, passou pelo PV, pelo PFL (atual União Brasil), pelo PMDB (atual MDB) e pelo PTB (atual PRD), foi liderança nacional do PSDB e hoje é figura de destaque do PSD de Gilberto Kassab. O apoio do presidente da República, de quem já foi desafeto, é importante para seu atual projeto, mas na política local ele tem voo próprio - caso eleito, será seu quarto mandato de prefeito. Nove partidos, entre eles o PT, integram sua aliança. Na vice está o deputado estadual Eduardo Cavaliere, também do PSD.
O bolsonarismo tem como representante o deputado federal Alexandre Ramagem (PL). Formado em Direito, foi delegado da Polícia Federal e ficou nacionalmente conhecido quando teve a nomeação para o cargo de diretor-geral da instituição suspensa pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Na condição de diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), foi acusado (e está sendo investigado) por suposta participação em um esquema de espionagem de adversários do então presidente Bolsonaro - a chamada “Abin Paralela”. A deputada estadual Índia Armelau (PL) é a candidata a vice.
Interessante observar a candidatura do deputado federal Tarcísio Motta (PSOL). Historiador e professor, começou sua vida política militando na Pastoral da Juventude da Igreja Católica, foi ligado ao atual presidente da Embratur, Marcelo Freixo. Seu nome hoje conta com o apoio de figuras do PT como o deputado federal Lindbergh Farias, o que abriu uma pequena dissidência na legenda. A vice é a deputada estadual Renata Souza, também do PSOL.
O advogado e deputado estadual Rodrigo Amorim é o candidato do União Brasil. Ele ficou conhecido na campanha eleitoral de 2018 quando, ao lado dos então candidatos a governador Wilson Witzel (sofreu impeachment) e a deputado federal Daniel Silveira (cassado e preso), quebrou uma placa em homenagem à vereadora Marielle Franco, assassinada naquele ano. Figura polêmica, já foi condenado por violência política de gênero em ação movida pelo PSOL/RJ. O vice é o também deputado estadual Fred Pacheco (PMN).
Por fim, o PP lançou o advogado, economista e deputado federal Marcelo Queiroz. Ele já foi aliado de Eduardo Paes, do ex-governador Wilson Witzel e também do ex-prefeito Marcelo Crivella, o que demonstra seu pragmatismo político. A vice é a vereadora tucana Teresa Bergher.
A mais recente pesquisa Quaest, publicada no final de julho, mostra Paes com 49% das intenções de voto, Ramagem com 13%, Motta com 7%, Amorim com 3% e Queiroz com 2%. Novos levantamentos serão divulgados em breve.
A eleição na capital fluminense, que terá na segurança pública o principal tema, caminha para o afunilamento da disputa entre Paes e Ramagem, com favoritismo total para o primeiro. Também se espera um bom desempenho de Motta - o PSOL tem um histórico de votações expressivas na cidade. Apesar de tudo, o Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa, continua lindo.
André Pereira César
Cientista Político


