“Quem apostou na polarização errou; eleitor quer saber da iluminação, do buraco na rua”. A frase, publicada nessa terça-feira, 8 de outubro, no jornal O Estado de São Paulo, sintetiza o pragmatismo de Gilberto Kassab. Ele e seu partido, o PSD, são os grandes vitoriosos do primeiro turno das eleições municipais.
Apenas para relembrar, o PSD, um partido claramente de centro, mas que transita com facilidade da esquerda à direita, foi fundado e registrado em 2011 e, desde então, vem ganhando espaço na cena política nacional de maneira consistente. Em setembro de 2024, o partido possuía mais de 470 mil filiados, número expressivo. Hoje, detém a maior bancada no Senado Federal (15 senadores) e a quarta bancada na Câmara dos Deputados (42 deputados). Uma legenda robusta, diga-se.
No atual ciclo eleitoral, o partido de Kassab elegeu o maior número de prefeitos, 878, desbancando o MDB, que por vinte anos liderou o número de prefeituras por todo o país. Nas câmaras municipais, desempenho igualmente positivo - 6.579 vereadores eleitos, atrás apenas do MDB e do PP. Os números apontam uma vitória incontestável de Kassab.
Mais ainda, nessas eleições o PSD foi o partido que ficou com a maior fatia do orçamento das 103 prefeituras com mais de 200 mil eleitores. A sigla abocanhou 11,7% das receitas totais dessas cidades, bem à frente do segundo colocado, o União Brasil, com 5,2% das receitas - o terceiro é o PL, 4,6%.
E quem é o presidente do PSD? Economista, engenheiro civil, empresário e corretor de imóveis, Gilberto Kassab é político de perfil discreto, mas que atua de maneira forte nas articulações de bastidor. Não por acaso seu partido, hoje, ocupa três ministérios no governo Lula (PT), ao mesmo tempo em que o próprio Kassab é o secretário de Governo e Relações Institucionais da gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo. Ele subverte a máxima bíblica de que ninguém pode servir a dois senhores.
Apesar de atuar nos bastidores, ele também tem larga experiência administrativa. Foi deputado federal (com o mote de campanha “quem sabe sabe, vota no Kassab”), prefeito de São Paulo (com o apoio do tucano José Serra) e ministro das Cidades de Dilma Rousseff (PT) e de Ciência e Tecnologia no governo de Michel Temer (MDB).
E o que pretende Kassab a partir de agora? Ele tem deixado claro que a legenda tem quadros de peso para disputar a presidência da República, citando nominalmente o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD/MG), o governador Ratinho Júnior (PSD/PR) e o prefeito do Rio de Janeiro, o recém-reeleito Eduardo Paes (PSD/RJ). Além disso, trabalha para eleger o correligionário Antonio Brito (PSD/BA) na sucessão da Câmara dos Deputados no início do próximo ano. Aparentemente, o atual comandante da Casa, Arthur Lira (PP/AL), está incomodado com os movimentos de Kassab.
Enfim, o PSD sai vitaminado das urnas e certamente poderá ocupar espaços adicionais no governo Lula, em uma eventual reforma ministerial. Kassab mais e mais se torna um ator central no cenário político nacional.
André Pereira César
Cientista Político