A reta final das eleições está aí e o primeiro turno do pleito municipal ocorrerá no próximo domingo, 6 de outubro. Um novo ciclo se inicia e o mapa político do país começa a ser redesenhado. Abaixo, algumas observações sobre o que se viu, o que se vê e o que se verá no cenário nacional.
. O aguardado embate entre lulismo e bolsonarismo não se materializou. Com receio de ter seus nomes associados a eventuais derrotas em cidades importantes, as duas principais lideranças políticas do país, o presidente Lula (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) optaram por uma postura discreta na disputa. É claro que ambos tentarão colher os frutos dos êxitos de aliados, mas, à exceção dos municípios maiores, como São Paulo e Rio de Janeiro, as questões locais dominaram os debates.
. Nas principais cidades há grande fragmentação partidária. Lideram a disputa, entre outros, a ala mais à direita de legendas como PP, PL, MDB, PSD, União Brasil, PSB e Republicanos.
. Já o desempenho do PT é sem dúvida ruim. O partido pode ficar sem nenhuma capital, algo inédito caso confirmado. Nem mesmo a força política do titular do Planalto e os bons números da economia parecem capazes de reverter esse quadro.
. Algumas cidades de peso registram absoluta indefinição e deverão ir ao segundo turno. É o caso de São Paulo, Belo Horizonte e Fortaleza.
. Por outro lado, há francos favoritos em capitais como Recife e Macapá. Risco zero de segundo turno nesses locais.
. Em linhas gerais, as campanhas pouco exploraram as propostas dos candidatos. O que se viu foi um excesso de ataques entre os adversários, ataques esses que, por vezes, chegaram às vias de fato. Política e democracia perdem com isso.
. O retrato mais acabado dessa realidade talvez seja a disputa em São Paulo. Na capital paulista, imagens como a “cadeirada” de José Luiz Datena (PSDB) em Pablo Marçal (PRTB) e o soco de um assessor deste último no marqueteiro de Ricardo Nunes (MDB) simbolizam o que ocorreu ao longo das últimas semanas.
. Muito se falou também sobre o crescimento da violência política em todo o país. Candidatos de norte a sul sofreram atentados e alguns acabaram assassinados, o que chamou a atenção da imprensa e da opinião pública.
. Registrou-se uma profusão de pesquisas de intenção de voto. Diariamente, institutos com as mais diferentes metodologias apresentaram levantamentos nas principais cidades, muitas vezes com números divergentes, o que acabou por confundir o eleitor médio.
. Conforme o esperado, as redes sociais tiveram papel preponderante nas campanhas, muitas vezes sendo o principal meio de comunicação entre candidatos e eleitores - caso de Pablo Marçal, por exemplo. Para variar, as Fake News também marcaram presença em peso.
. A Constituição Federal e a Resolução TSE 23.734/24 determinam que somente os municípios com mais de 200 mil eleitores poderão ter segundo turno. O Brasil possui, atualmente, 103 municípios com mais de 200 mil eleitores, incluídas aí pela primeira vez, todas as capitais.
. Nas eleições de 2020, Palmas (TO), capital do Tocantins, havia ficado fora da lista, pois contava com 180.524 votantes. Agora, tem 209.524 eleitores. Por sua vez, Governador Valadares (MG) fazia parte do grupo em 2020, mas saiu em 2024. A cidade perdeu mais de 15.000 eleitores nos últimos quatro anos. Tinha 213.886 votantes e hoje conta com 198.487.
. Em 2020, o PL - sem Bolsonaro - elegeu apenas dois prefeitos para comandar as cidades desse grupo. O PT - antes da eleição de Lula - conseguiu eleger quatro. Os partidos que mais elegeram prefeitos para comandar as maiores cidades brasileiras, em 2020, foram o PSDB e o MDB, com dezessete prefeitos cada um.
Por fim, ao eleitor fica a sensação de uma campanha de curta duração, o que sem dúvida dificulta o processo de maturação do voto.
André Pereira César
Cientista Político


