Reflexões iniciais sobre a sucessão em São Paulo - Eleições Municipais - Hold Assessoria

Reflexões iniciais sobre a sucessão em São Paulo

Com o início oficial da campanha eleitoral, a disputa sucessória paulistana tende a se acirrar ainda mais. Conforme já observado nesse espaço, são cinco os candidatos competitivos, da esquerda à direita, todos hoje com reais chances de êxito.

Aqui cabe um rápido parênteses. Nas eleições presidenciais de 2018, o candidato Geraldo Alckmin, então no PSDB, montou uma ampla chapa (a maior da disputa), com nove partidos. Esse fato não foi suficiente e, ao final, ele acabou “cristianizado” e seus pretensos aliados migraram em peso para a candidatura de Jair Bolsonaro, à época no PSL. O resultado foi um desempenho pífio do tucano e a vitória do capitão-deputado.

Dito isso, é importante acompanhar os movimentos do atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), e do coach Pablo Marçal (PRTB), que disputam o mesmo eleitorado, situado à direita e, também, o mais radicalizado desse espectro. A exemplo de Alckmin em 2018, Nunes aliou-se a nada menos que doze partidos e tem nesse fato um ativo político de peso. No entanto, Marçal, mesmo em seu partido nanico, mostra-se um candidato que, com seu agressivo discurso antipolítica e antissistema, agrada a essa parcela significativa do eleitorado. Dado o histórico de votação dos últimos pleitos, é possível afirmar que Nunes corre o risco de nem sequer chegar a um eventual segundo turno.

Mais ainda, o atual prefeito enfrenta um dilema. De um lado, tem evitado a nacionalização da campanha, muito em função da rejeição a Bolsonaro na capital paulista. De outro, precisa do apoio do ex-presidente no primeiro turno, sob risco de Marçal avançar sobre seu eleitor. O que fazer nesse caso?

A prova final, para Nunes, será a manifestação contra o STF e pelo impeachment do ministro Alexandre de Moraes agendada para o próximo domingo (25 de agosto). Se comparecer ao evento, firma posição e ganha ainda mais apoio dos radicais bolsonaristas. No entanto, se comparecer ao evento, corre o risco de perder outros apoios, inclusive do seu próprio partido, que não defende ataques ao STF e nem impeachment de ministros da Suprema Corte. Se não for ao evento, os mais radicalizados, que já desconfiam de Nunes por ser um neobolsonaro, migrarão em peso para a candidatura Marçal. Pergunta-se novamente: O que fazer nesse caso?

Igualmente o deputado Guilherme Boulos (PSOL) mostra-se incomodado com o candidato-coach. Em recente evento, o candidato apoiado pelo presidente Lula (PT) afirmou que “eleição não é lacração”, um recado direto ao adversário. Registre-se que, em debate ocorrido na última semana, os dois quase partiram para as vias de fato. Jogo bruto que serviu de recorte para as redes sociais de Marçal.

O apresentador José Luiz Datena (PSDB) continua sendo uma incógnita e, mesmo em seu partido, há quem aposte na desistência, dado seu histórico. De fato, não seria novidade.

Já a deputada Tabata Amaral (PSB) ainda não conseguiu ganhar tração, mesmo com o apoio do vice-presidente Alckmin e do ministro do Empreendedorismo, Márcio França, ambos do mesmo partido da candidata. A conferir o impacto da entrada da esposa de França, a professora Lúcia França (PSB), na chapa de Tabata.

Segundo o DataFolha, em pesquisa divulgada em 8 de agosto, Nunes tem 23% das intenções de voto, Boulos 22%, Marçal e Datena 14% e Tabata 7%. Tudo em aberto - novo levantamento do instituto deverá ser divulgado nos próximos dias.

É inegável que a disputa em São Paulo terá reflexos sobre as eleições presidenciais de 2026. Isso explica em larga medida o interesse - e o empenho - de Lula e Bolsonaro no pleito, enquanto o governador, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em distância nada regulamentar, só observa.

André Pereira César

Cientista Político

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