Na capital paranaense, o processo eleitoral de 2024 apresenta algumas peculiaridades. De um lado, diversas chapas “puro sangue”, com partidos ocupando simultaneamente as vagas de prefeito e vice. De outro, uma deputada federal que ingressou no jogo para preparar o terreno para um senador disputar o governo estadual em 2026. Por fim, dois ex-governadores flertando com o ocaso político.
Falemos então dos principais postulantes. O União Brasil decidiu-se por montar uma chapa própria, com o jornalista e deputado estadual Ney Leprevost à frente e a advogada e deputada federal Rosângela Moro na vice. A operação segue um cálculo político claro. A vice pavimentará o caminho para seu marido, o senador Sérgio Moro, que pretende disputar o governo estadual em 2026 e estabelecer o retorno da chamada “República de Curitiba” em suas bases originais. Observe-se aqui que, no início do ano, a deputada transferiu seu domicílio eleitoral de São Paulo para Curitiba, em um movimento muito bem pensado e que foi questionado - sem sucesso - na Justiça.
O PSD adotou outra estratégia e terá na chapa o PL. O candidato a prefeito é o administrador de empresas e atual vice Eduardo Pimentel, que terá a seu lado o jornalista e ex-deputado federal Paulo Martins. Aqui temos uma interessante junção de forças. Estarão na mesma trincheira o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o governador Ratinho Júnior (PSD) e o prefeito Rafael Greca (PSD), em uma composição que inclui ainda o Cidadania e o ex-coordenador da Lava Jato Deltan Dallagnol (Novo). Uma candidatura de peso, sem dúvida.
O PP seguiu a cartilha do União Brasil e também terá uma chapa pura, com a empresária e deputada estadual Maria Victoria Barros à frente. O vice é o advogado Walter Petruzziello. Importante observar que ela é filha do ex-ministro da Saúde e deputado federal Ricardo Barros, talvez a mais expressiva liderança política do partido no estado, e da ex-governadora Cida Borghetti.
O PSB, por seu turno, lança o médico, ex-prefeito e atual deputado federal Luciano Ducci, figura bastante conhecida em Curitiba. O vice será o deputado estadual Goura (PDT). Cabe ressaltar que o PT, que abriu mão de indicar candidato próprio, apoia os socialistas nessa disputa. Decisão politicamente correta, pois a legenda não seria competitiva na capital, não passando de um sparring, para servir os adversários na arena da política local. A centro-esquerda faz suas apostas, como se vê.
Por último, o nanico Mobiliza (ex-PMN) terá como cabeça de chapa o jornalista, bacharel em Direito e ex-governador Roberto Requião, que não conseguiu espaço em outro partido. O vice ainda não foi definido. Figura histórica do antigo MDB/PMDB, ele vem progressivamente perdendo força no estado e, caso não tenha um bom desempenho na eleição, poderá encerrar definitivamente a carreira política.
Outro ex-governador também vê seu espaço político diminuir na cena local. Sem apoios efetivos, Beto Richa (PSDB) desistiu da disputa e declarou posição de neutralidade no pleito. Mais um sinal de que os tucanos encolhem e caminham para se tornar uma legenda de pouca relevância no cenário nacional.
Levantamento do Paraná Pesquisas divulgado no início de julho mostra Pimentel com 24% das intenções de voto, Ducci com 15%, Leprevost com 14% e Requião com 12%. Nova pesquisa será apresentada nos próximos dias.
Resumo da ópera: a sucessão em Curitiba segue em aberto e, dado o número de candidatos competitivos, o segundo turno parece inevitável. Uma coisa é certa - a política paranaense será totalmente reconfigurada após as eleições de outubro, de olho em 2026.
André Pereira César
Cientista Político


