Reflexões iniciais sobre a sucessão em Porto Alegre - Eleições Municipais - Hold Assessoria

Reflexões iniciais sobre a sucessão em Porto Alegre

É do conhecimento geral que, em eleições municipais, partidos com orientações programático-ideológicas distintas acabam se unindo, basicamente em função das realidades locais. Assim, alianças a princípio inusitadas são montadas, não respeitando o cenário nacional.

Dito isso, chama a atenção a diretriz do PL proibindo a sigla de formar alianças com partidos de orientação política à esquerda nas próximas eleições municipais. A determinação foi feita pelo presidente nacional da agremiação, Valdemar Costa Neto. A decisão visa conter a aproximação de diretórios regionais com candidatos ligados ao PT, sendo o caso mais notável o da Bahia. O ex-ministro João Roma, presidente estadual do PL, relatou que lideranças locais estavam "confraternizando com caciques da esquerda". Recado anotado pela cúpula nacional dos liberais.

Costa Neto, por sinal, tem afirmado há tempos que o partido projeta eleger cerca de mil prefeitos em outubro próximo. A medida, de certo modo, pode afetar essa meta. O pragmático Centrão, em especial, não vê problemas na aproximação com a centro-esquerda quando necessário. Figuras como Arthur Lira (PP/AL), Marcos Pereira (Republicanos/SP) e Gilberto Kassab (PSD/SP) transitam com desenvoltura no mundo partidário. Aqui, nada de novo.

Corte rápido para a disputa em Porto Alegre. O governador goiano Ronaldo Caiado (União Brasil) não esconde a pretensão de disputar a presidência da República em 2026. Por conta disso, tem buscado se aproximar de lideranças políticas de todo o país, independente da coloração política, mas desde que não seja do PT. Assim, pretendia ir à capital gaúcha para declarar o apoio ao atual prefeito, Sebastião Melo (MDB), mas foi desautorizado pela cúpula nacional do partido. Derrota para o goiano. O União Brasil estará na chapa do PDT - uma legenda ainda mais à esquerda.

Então, aos principais postulantes. Sebastião Melo (MDB), o prefeito-candidato, é advogado e já foi vereador da capital (tendo presidido a Câmara Municipal), foi vice-prefeito e deputado estadual. Filiado ao MDB desde 1981, nasceu no interior de Goiás - daí outra explicação para sua conexão com o governador Caiado. Também foi próximo do PCdoB e do PV, inclusive sendo contrário, durante alguns anos, à privatização de empresas públicas. Em 2020, ano de sua primeira eleição para prefeito, foi condenado pela Justiça Eleitoral por publicar uma falsa pesquisa de intenção de voto. Igualmente adotou uma postura de críticas ao combate à pandemia da Covid, com o aumento significativo de casos na cidade à época. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é seu principal cabo eleitoral. O desastre climático que devastou Porto Alegre deverá ser usado por seus adversários no intuito de imputar a Melo parte da culpa por diversos erros da administração municipal.

A deputada federal Any Ortiz (Cidadania) também poderá estar na disputa. Advogada, está em seu primeiro mandato na Câmara - antes, exerceu dois mandatos na Assembleia Legislativa. Ligada ao governador Eduardo Leite (PSDB), sempre apoiou o prefeito Melo. Em Brasília, relatou o projeto que tratava da reoneração da folha de pagamento de dezessete setores da economia. É crítica contundente da esquerda, em especial PT e PCdoB. Sua candidatura, porém, tende a ser abortada em favor do atual prefeito.

Neta do ex-governador e fundador do PDT Leonel Brizola, a advogada Juliana Brizola (PDT) será a candidata do partido no pleito. Ex-vereadora e deputada estadual por três mandatos, segue a linha política de seu avô ao defender medidas com foco na educação. Como observado mais acima, seu vice será o deputado estadual Thiago Duarte (União Brasil). Resta saber se a dupla funcionará na campanha e, mais ainda, numa eventual gestão.

Por fim, a deputada federal Maria do Rosário (PT) será a candidata de seu partido, com o PSOL na vice. Pedagoga, foi vereadora e deputada estadual antes de ir para Brasília. Foi também secretaria de Direitos Humanos no primeiro governo de Dilma Rousseff (PT). Há uma célebre passagem ocorrida quando foi deputada federal - um duro bate boca no Salão Verde da Câmara com o então deputado Jair Bolsonaro, quando foi chamada de vagabunda.

A mais recente pesquisa AtlasIntel, publicada semanas atrás, mostra Rosário com 30% das intenções de voto, Melo com 25%, Ortiz com 9% e Brizola com 8%. Quadro que deverá mudar muito com o início da campanha nas ruas e nas redes.

Para concluir, cabe registrar que as eleições em Porto Alegre terão uma peculiaridade esse ano - a recuperação da cidade após a tragédia das chuvas de meses atrás, que trouxe destruição e dor. Um tema que inevitavelmente será prioridade para os candidatos.

André Pereira César

Cientista Político

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