Uma novidade chamada Kamala - Política - Hold Assessoria

Uma novidade chamada Kamala

Não surpreendeu a indicação da democrata e atual vice-presidente, Kamala Harris, para substituir Joe Biden na disputa contra o republicano Donald Trump nos Estados Unidos. No entanto, a própria Kamala representa uma novidade. Mulher, negra, filha de imigrantes, tem bom trânsito entre as minorias. A dinâmica do jogo sucessório mudou.

Para lembrar, ela tem pouco menos de sessenta anos e nasceu na Califórnia. Formada em Direito e com bacharelado em Artes, foi procuradora em San Francisco, procuradora-geral da Califórnia e depois senadora. Elegeu-se vice-presidente em 2020. Experiência não falta e sua juventude contrasta com a idade de Biden. Uma aposta do partido Democrata.

Evidente que a atuação dela no atual governo foi alvo de críticas, especialmente por parte dos republicanos. Esperava-se que Kamala tivesse maior protagonismo, mas a discrição foi uma das marcas de sua gestão, decepcionando a alguns. Agora ela tem a chance de mudar a história.

Na atual campanha, Trump e os republicanos têm como um dos principais motes o ataque aos imigrantes ilegais e, nesse caso, a nova candidata pode se tornar um alvo fácil. No início do governo Biden, Kamala esteve na América Central para discutir com autoridades da região mudanças nas políticas de entrada de pessoas nos Estados Unidos. Ela não teve sucesso na empreitada, muito em função da ação do partido Republicano. Mas Trump insistirá no tema e já prepara um “dossiê” contra a adversária.

Talvez o principal desafio de Kamala seja unificar seu partido e chegar realmente forte na convenção democrata, que ocorrerá na segunda quinzena de agosto. Nesse sentido, a definição de seu vice, provavelmente um político de um dos chamados “swing states” (Arizona, Geórgia, Michigan, Nevada, Carolina do Norte, Pensilvânia e Wisconsin) - estados que não têm um partido hegemônico e em geram são decisivos para o resultado final das eleições.

O tom da campanha da atual vice-presidente foi dado em uma das primeiras falas de sua candidatura. Ela foi dura ao afirmar que, como procuradora da Califórnia, se deparou com “criminosos de todos os tipos” e que, portanto, conhece “tipos como Donald Trump”. Os próximos meses prometem fortes emoções.

Algumas questões, no entanto, surgem a partir de sua indicação. O eleitor norte-americano médio aceitará votar em um nome com o perfil de Kamala Harris, mulher e negra? Seu partido apoiará integralmente a candidata? O legado do governo Biden terá peso na disputa?

Por fim, caso seja vencedora, Kamala certamente dará sequência a muito do que tem sido aplicado na gestão Biden. Não haverá mudanças radicais ou súbitas. Enquanto isso, o mundo acompanha com atenção (e apreensão) o processo sucessório na terra do Tio Sam.

André Pereira César

Cientista Político

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