Resolvida - ao menos por ora - a novela da minirreforma ministerial, o governo Lula (PT) ganha uma nova configuração. A adesão do Centrão, via PP e Republicanos, será testada a partir de agora. O que virá pela frente?
De um lado, há os perdedores no processo, que já demonstram claramente a insatisfação. A demissão de Ana Moser do ministério do Esporte, da maneira como se deu, gerou fortes críticas. Na visão de muitos, o titular do Planalto foi deselegante no caso. Lembremos, porém, que o Centrão já estava na pasta, na figura de Thiago Milhim, secretário nacional de Esporte Amador, Educação, Lazer e Inclusão Social. O nome do cargo é longo, mas a função é breve: atender políticos e liberar emendas. O homem certo no lugar certo.
Aliado de primeira hora de Lula e dono da vice-presidência da República e do ministério da Justiça, o PSB sente-se desprestigiado com as mudanças. A saída de Márcio França do ministério de Portos e Aeroportos não foi bem recebida pela legenda. Pior, a pasta reservada a ele, Micro e Pequenas Empresas, é considerada de segunda linha. Os socialistas trabalharam até o limite para evitar a mudança, sem êxito.
Aqui será importante observar o comportamento do vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB). Ele construiu uma sólida relação com Lula, mas os recentes movimentos do presidente podem ter deixado sequelas. A conferir.
Do outro lado, o Centrão entregará os tão cobiçados votos para o Planalto? Nada está garantido - o presidente do PP, senador Ciro Nogueira, chegou inclusive a ameaçar os correligionários que aderissem ao governo. No caso do Republicanos, como ficará a situação do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, virtual herdeiro do bolsonarismo? E o Senado Federal, com figuras como Hamilton Mourão e Damares Alves?
Enfim, muitas questões em aberto, tanto que o comandante do Republicanos, deputado federal Marcos Pereira (SP), declarou recentemente que a indicação do deputado federal Sílvio Costa Filho (PE) para o ministério de Portos e Aeroportos não foi feita pelo partido e que se trata de cota pessoal do presidente da República e que, por isso, a agremiação não integrará organicamente a base do governo.
De concreto, sabe-se que o presidente já pensa em novas alterações, talvez no final do ano. Tudo dependerá do desempenho dos ministros e dos partidos que representam. Ou seja, há muito por acontecer.
O fato é um só. O governo saiu encorpado com as mudanças, mas nada garante que agenda do Planalto será apoiada pelos novos “aliados”. A pauta econômica é a exceção, pois conta com a simpatia de PP e Republicanos. Os demais temas mais caros à esquerda, porém, dificilmente contarão com a adesão dessas agremiações.
André Pereira César
Cientista Político