Mundo em transe: tendências distintas - Política - Hold Assessoria

Mundo em transe: tendências distintas

Keir Starmer, Jean-Luc Mélenchon, Masoud Pezeshkian. Nomes até então pouco conhecidos no plano internacional atraem os holofotes de todos a partir de agora.

Uma nova configuração geopolítica começa a se configurar após as eleições realizadas em países como França, Reino Unido e Irã. O pleito britânico confirmou o esperado - retorno dos trabalhistas ao poder -, os iranianos elegeram um político moderado, mas a grande surpresa coube as franceses, com a derrota da favorita ultradireita. As urnas muitas vezes surpreendem.

Na terra dos aiatolás, o reformista Pezeshkian derrotou o grupo ultraconservador e terá mandato de quatro anos. A princípio, ele defende um novo modelo de relacionamento com o Ocidente e aborda ainda questões politicamente sensíveis para a sociedade iraniana, como a possível flexibilização da lei do véu obrigatório. Um assunto tabu pode entrar em pauta.

Dado o histórico do país desde a revolução islâmica de Khomeini, no final dos anos 70 do século passado, ficam ao menos três perguntas. Em primeiro lugar, como se darão as relações do novo presidente com a teocracia de Teerã? Na mesma linha, terá o mandatário poder político frente a linha-dura que comanda o país? Por fim, haverá algum tipo de diálogo com tradicionais (e poderosos) adversários do Irã na região, em especial a Arábia Saudita? Respostas começarão a ser dadas em breve.

Na Inglaterra, nenhuma novidade. Após cinco governos conservadores, os trabalhistas voltam ao poder com o primeiro-ministro Starmer. Aqui, cabe ressaltar que a vitória se deu mais por demérito (e dos inegáveis fracassos) dos conservadores - o símbolo máximo dessa debacle sem dúvida é o Brexit, um fiasco em termos políticos, econômicos e sociais.

Importante observar que há muitas similaridades entre trabalhistas e conservadores - ambos são fiscalmente responsáveis e não estatistas. Desse modo, não se deve esperar grandes correções de rota no novo governo. Por outro lado, o comportamento histriônico, mercurial e conservador de uma liderança como o folclórico Boris Johnson não se repetirá. Ao final, o saldo é positivo. O eleitor britânico barrou a ascensão do ultranacionalista Nigel Farage, o que representaria o pior cenário.

Para concluir, o pleito francês trouxe a grande surpresa da “rodada”. O favoritismo da ultradireita de Marine Le Pen, representada pela Reunião Nacional, amargou um terceiro lugar, com 143 cadeiras no Parlamento. A esquerda, com a Nova Frente Popular, conquistou 182 assentos, e a coalizão Juntos, do presidente Emmanuel Macron, obteve 168 vagas.

O presidente da França trabalhou para retirar votos de Le Pen mas, ao final, essa parcela do eleitorado migrou para os esquerdistas, que deverão indicar o novo primeiro-ministro. A nova formatação do governo, porém, ainda é uma incógnita. O que se pode dizer é que a estratégia dos adversários da ultradireita - muitos candidatos abriram mão da disputa em segundo turno em prol de nomes mais fortes - funcionou.

Em paralelo, as Américas vivem outro momento. Nos Estados Unidos, a candidatura Biden segue fragilizada, e há quem defenda não somente sua desistência da disputa sucessória, mas também a renúncia ao atual mandato. Trump agradece. No Brasil, o argentino Javier Milei comparece a um evento promovido pela extrema direita e, simultaneamente, esnoba o presidente Lula e o Mercosul. A onda conservadora segue forte por aqui.

O recado é claro. A política é cíclica e o vencedor de hoje é o derrotado de amanhã. Não há o fim da História - com H maiúsculo.

André Pereira César

Cientista Político

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