Os recentes eventos ocorridos na Inglaterra apontam mais uma vez os riscos de que a extrema-direita, em todas as suas vertentes, avance mais e mais sobre todo o planeta. Em várias cidades do país, centenas de pessoas foram presas após atacarem imigrantes, em um espetáculo de vandalismo.
Aos fatos. Os protestos tiveram início após o assassinato, a facadas, de três meninas que estavam em uma aula de dança. Tentando se aproveitar do ocorrido, a direita radical insuflou a população a sair às ruas para protestar com violência, tendo como alvo pessoas e estabelecimentos supostamente vinculados a estrangeiros que vivem em solo britânico.
Os “mentores” da barbárie se basearam em uma falsa notícia, que afirmava que o assassino era um nativo de outro país com conexões com o islamismo. O poder das chamadas Fake News mais uma vez se fez presente, pois o autor do crime é um cidadão nascido em Cardiff, capital do País de Gales. Mas o estrago já estava feito.
Importante dizer que esse movimento da extrema direita, na Inglaterra, coincidentemente, ocorre logo após as eleições gerais, que levou o partido Trabalhista ao poder, após 14 anos.
O governo britânico segue tentando conter os danos, mas a rebelião deixou claras as limitações do poder estatal para enfrentar uma situação desse tipo, de desestabilização da ordem democrática. No limite, o jogo é desproporcional. Influenciadores radicais se manifestam nas redes sociais e a máquina do governo não consegue reagir com eficácia.
Interessante observar o perfil dos que saíram às ruas para vandalizar. Na média, homens brancos relativamente jovens - e violentos e barulhentos.
Exatamente nesse ponto entram setores da sociedade civil, organizados ou não, que saíram em defesa daqueles que sofreram os ataques. A reação, à princípio, obteve êxito, mas o risco de uma nova onda de radicalização é real.
Por falar em onda de radicalização, Bangladesh também enfrenta protestos de monta, que culminaram na renúncia - e fuga do país - da até então populista primeira-ministra Sheikh Hasina, que comandou o país por cerca de 15 anos. Os protestos deixaram mais de quatrocentos mortos e a ex-governante acusou os Estados Unidos de serem os responsáveis pelos eventos. A nação tem um novo governo interino, com o ganhador do Prêmio Nobel Muhammad Yunus, cujo desafio é restaurar a estabilidade no país asiático hoje marcado pela revolta. Aqui, também é possível afirmar que houve grupos que insuflaram a população em movimentos muito bem coordenados.
Em suma, a mobilização de massas por grupos extremistas representa um perigo palpável, que pode facilmente se espalhar pelo globo. As democracias seguirão fragilizadas e ameaçadas.
André Pereira César
Cientista Político
Colaboração: Alvaro Maimoni - Consultor Jurídico