Como se sabe, as eleições na capital paulista serão o principal destaque das disputas municipais do segundo semestre. Nos últimos dias, importantes movimentos foram registrados, com forte impacto sobre todo o processo em curso - e sobre a política nacional como um todo.
O mais importante desses movimentos talvez tenha sido o do atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição. Em uma espécie de “terceirização da escolha”, o nome do vice em sua chapa foi definido. Trata-se do ex-comandante da Rota e ex-presidente da Ceagesp Ricardo Mello Araújo (PL), figura controversa da cena política local.
Por que falamos em terceirização? Simples - o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi o condutor absoluto da definição do nome de Mello Araújo. Mais ainda, para evitar um desgaste maior com aliados, Nunes delegou ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) o anúncio da decisão. Mesmo assim, há grande insatisfação interna. Cabe lembrar que nada menos que onze partidos apoiam a reeleição do atual prefeito, e é virtualmente impossível agradar a todos.
Nunes e seu entorno demonstram especial preocupação com a pré-candidatura do notório “coach” Pablo Marçal (PRTB). Pesquisas deixam claro que sua participação na disputa tem o potencial de desidratar a candidatura do prefeito, retirando votos do mesmo, fortalecendo assim a oposição. Ciente dessa realidade e focando o eleitor mais conservador e radicalizado, Marçal já chama Nunes de “homem fraco”. Jogo de cena ou percepção de que há condições reais de ocupar essa faixa do eleitorado?
No campo oposicionista, Guilherme Boulos (PSOL) vem buscando reforçar duas frentes. De um lado, ganha espaço nas redes sociais, em especial o Facebook. De outro, se escora mais e mais em sua vice, a ex-prefeita Marta Suplicy (PT), para conquistar votos no reduto da petista, a periferia paulistana. Boulos, apesar de sua conhecida ligação com o movimento dos sem-teto, tem maior força eleitoral nas áreas centrais da capital e pouca penetração na periferia. Conseguirá mudar essa realidade?
O outro nome relevante na oposição, a deputada Tábata Amaral (PDT) ataca a escolha do vice de Ricardo Nunes e acaba jogando luz e atraindo, para Nunes, os votos dos mais radicalizados quando afirma que a escolha do vice “mostra que quem manda é Bolsonaro”. Infeliz declaração. Simultaneamente, busca atrair eleitores que não confiam em Boulos. Tarefa inglória, dado que seu discurso ainda se mostra anódino. O eleitorado aparentemente ainda não captou sua presença na disputa.
Por fim, “eterno” pré-candidato, o apresentador José Luiz Datena (PSDB) anunciou que tirará férias da Band para se dedicar à campanha. No caso, há grande (e justificada) desconfiança em relação às reais intenções de Datena - e mesmo entre os tucanos sua indicação está longe de ser unanimidade.
A “joia da Coroa”, a cidade de São Paulo será o grande laboratório para as eleições presidenciais de 2026. Os movimentos ora em curso deixam claro que a polarização (“calcificação”) dará o tom da campanha.
André Pereira César
Cientista Político