Estado atual da política em dez quadros - Política - Hold Assessoria

Estado atual da política em dez quadros

. O presidente Lula (PT) segue reforçando os ataques ao mercado financeiro e, em especial, ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Na noite de segunda-feira, 1º de julho, ele afirmou que não precisa “prestar contas” a setores do mercado, mas sim ao povo “pobre e trabalhador”. Um pouco antes, ele reclamou que está há dois anos com um presidente do BC “do Bolsonaro (PL)”. A estratégia do titular do Planalto (arriscada, diga-se) é clara - tirar a pressão do mercado sobre o futuro nome a ser indicado à presidência do BC, manter a base petista mobilizada e, ao mesmo tempo, pressionar para que Campos Neto deixe o cargo antes do prazo legal, previsto para o final do ano.

. Em outra frente, Lula enfrenta uma saia justa diplomática. O presidente da Argentina, Javier Milei, virá ao Brasil participar de evento promovido pela família Bolsonaro, mas não se encontrará com seu homólogo. Mais ainda, o argentino não participará da reunião de cúpula do Mercosul da próxima semana, em Assunção, Paraguai. Mais uma demonstração de que ele pretende se afastar mais e mais do bloco. Em recente declaração, chamou Lula de “perfeito dinossauro idiota”. Milei dobrou a aposta.

. Os dois grupos de trabalho da regulamentação da reforma tributária deverão entregar seus relatórios nos próximos dias. O tempo corre e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP/AL), quer a matéria devidamente votada pelo plenário da Casa ainda antes do recesso. Há pontos carentes de ajuste, porém, como o do setor de mineração, que não deseja ser “penalizado” pelo chamado “imposto do pecado”. Os prazos serão cumpridos?

. O Fórum de Lisboa, evento organizado pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, tem recebido críticas de outros integrantes da Corte. Parte do incômodo de uma ala do Tribunal é causado pela proporção que tomou o fórum, um grande encontro de integrantes dos três Poderes com empresários e advogados, representando variados interesses e com uma intensa agenda de almoços e jantares paralelos ao evento principal para tentar atrair autoridades. Suspeitas ficam no ar em um momento em que o STF recebe ataques de setores organizados (ou nem tanto) da opinião pública.

. Foi divulgada mais uma pesquisa de intenção de voto em São Paulo. A disputa segue acirrada na capital paulista. De acordo com o levantamento do Real Time Big Data, o deputado Guilherme Boulos (PSOL) aparece com 29% das citações, contra 28% do prefeito Ricardo Nunes (MDB). Na sequência, aparecem o “coach” Pablo Marçal (PRTB), com 12%, o jornalista José Luiz Datena (PSDB), com 8%, a deputada Tabata Amaral (PSB), com 7%, o também parlamentar Kim Kataguiri (União Brasil), com 5%, e a economista Marina Helena (Novo), com 1%. Evidentemente que nem todos os nomes chegarão a disputar o pleito e, assim, os números ainda sofrerão alterações profundas.

. Um dos principais projetos do governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos), a privatização da Sabesp entrou em nova etapa. Sem concorrentes, a Equatorial foi nomeada a investidora de referência finalista do processo de venda da empresa, tendo oferecido R$ 6,9 bilhões pela participação de 15% na companhia de saneamento. A princípio, o processo previa que dois investidores fossem os finalistas, o que não ocorreu. Mesmo assim, e apesar da falta de interesse e do valor das ações abaixo do esperado, o governo considerou o evento bem sucedido. Só não se sabe para quem.

. O escândalo das Lojas Americanas voltou à cena com as prisões do ex-CEO Miguel Gutierrez e da ex-diretora Anna Saicalli. A história ainda tem pontos a serem esclarecidos e ganha contornos rocambolescos. Cabe ressaltar aqui o fracasso da CPI sobre a questão na Câmara dos Deputados, ocorrida em 2023 - os parlamentares não conseguiram avançar um centímetro nas investigações e sequer emitiram um relatório final para ser votado. Nesse caso, o capital falou mais alto.

. Também a tradicional rede de cafeterias Casa do Pão de Queijo enfrenta problemas. Ela entrou com um pedido de recuperação judicial por conta de uma dívida de quase R$ 60 milhões. Até mesmo faturas de energia elétrica da empresa estão em atraso, revelando a dramaticidade do caso. Uma nova Americanas no horizonte?

. Na França, o partido ultradireitista Reunião Nacional (RN), de Marine Le Pen, obteve 33% dos votos no primeiro turno das eleições parlamentares, seguido pelo bloco de esquerda Nova Frente Popular, com 28%. Chamou a atenção o desempenho pífio do bloco centrista do presidente Emmanuel Macron, com apenas 20% dos votos. O segundo turno ocorrerá já no próximo fim de semana, mas o grande derrotado está dado - Macron, que talvez tenha cometido um erro no cálculo político ao dissolver o Parlamento e convocar eleições. Sua fragilidade está exposta.

. Aumentou significativamente a pressão para que o presidente dos Estados Unidos, o democrata Joe Biden, desista de disputar a reeleição. Após o desastroso desempenho no debate da última semana contra o republicano Donald Trump, ele se vê cercado de críticas. Publicações de peso como New York Times, Wall Street Journal e Economist se uniram em coro pela renúncia do titular da Casa Branca, bem como personalidades como o economista (Nobel e democrata de carteirinha) Paul Krugman. Nomes alternativos já pipocam no mercado, mas uma coisa é certa - os dois grandes partidos norte-americanos enfrentam uma crise de renovação de suas lideranças.

André Pereira César

Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni - Consultor Jurídico

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