Bloco? Que bloco? - Política - Hold Assessoria

Bloco? Que bloco?

A reunião de cúpula do Mercosul, realizada na capital do Paraguai, Assunção, deixou evidentes como nunca as divisões no bloco. Para além da ausência (desprezo, para ser mais claro) do argentino Javier Milei, o que se viu foi absoluta desarticulação. Há futuro para o grupo?

Apenas para relembrar, o Mercosul foi fundado a partir do Tratado de Assunção, em março de 1991. A princípio, a integração regional é econômica, configurada em uma união aduaneira na qual há livre comércio intrazonal e política comercial comum entre os países membros. Inegavelmente, dada a escala de suas economias, Brasil e Argentina são as “locomotivas” do bloco.

No papel, tudo muito bonito, organizado - e pretensioso. A verdade, porém, mostra outro quadro. Desde sua implementação, o bloco padece de unidade, sofrendo com as recorrentes divergências político-ideológicas de seus integrantes. Sem voltar muito no tempo, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) praticamente abandonou o Mercosul, muito em função (mas não só) de suas péssimas relações com Alberto Fernández, então presidente da Argentina.

Hoje, a questão ideológica na composição do bloco salta aos olhos. O paraguaio Santiago Peña e o uruguaio Luis Lacalle Pou são direitistas, enquanto Milei, que se autoproclama “libertário”, está ainda mais à direita. À esquerda, ou centro-esquerda, Lula e o boliviano Luis Arce - lembrando que a Venezuela de Nicolás Maduro está suspensa já há alguns anos.

Não por acaso, o presidente Lula fez um discurso contundente e, de certo modo, de humor cinzento. Sem citar nomes, mas mandando um recado velado a Milei, ele criticou o “nacionalismo arcaico” que tenta resgatar “experiências ultraliberais”. Indo além, o brasileiro atacou o que chamou de “divisões internas” no continente.

Cabe ressaltar que o presidente argentino não foi a Assunção mas, à véspera do encontro de cúpula, esteve em Camboriú (SC), para participar de evento do congresso ultra conservador CPAC Brasil, promovido pela família Bolsonaro. Daí se falar em desprezo pela reunião de cúpula do Mercosul.

Por fim, dois elementos importantes. Em primeiro lugar, as dificuldades para a conclusão do acordo Mercosul-União Europeia minam as expectativas de todos os atores envolvidos nas negociações. Além disso, já há algum tempo integrantes do bloco sul-americano, Uruguai em particular, buscam fechar acordos bilaterais, aumentando as desconfianças de seus pares. Ambiente nada saudável.

O fato é um só. Sem resultados concretos, o Mercosul caminha perigosamente para o ocaso. O futuro é nebuloso para o bloco.

André Pereira César

Cientista Político

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