Não causou propriamente surpresa o atentado sofrido por Donald Trump, que disputará as eleições presidenciais norte-americanas pelo Partido Republicano. Desde 1865, com o assassinato de Abraham Lincoln, o país registra crimes contra chefes do Executivo.
Foi assim com James Garfield (1881), William Mckinley (1901) e John Kennedy (1963) - todos assassinados. Também entram nessa contabilidade presidentes que escaparam com vida - Theodore Roosevelt (1912), Ronald Reagan (1981) e agora Trump.
O que explica esse fenômeno? Uma hipótese clara é o fácil acesso da população do país a todo tipo de armas e munições. Existem verdadeiros shopping centers, onde qualquer pessoa pode entrar e adquirir esse material. Não por acaso, volta e meia registram-se massacres em escolas, lanchonetes e boates. A falta de regulamentação do setor pelo poder público é perigosa - o cineasta Michael Moore abordou esse quadro com maestria no filme “Tiros em Columbine”, de 2002.
Também contribui para a repetição desses eventos a excessiva exposição de autoridades e, nesse ponto, Donald Trump, com seu discurso de ódio principalmente contra minorias e imigrantes, bem ao seu estilo histriônico e agressivo, tornou-se um alvo em potencial. Aqui, por sinal, entram as teorias conspiratórias, dado que o autor dos disparos era, aparentemente, ligado aos republicanos e foi visto por muitos espectadores em situação suspeita antes de entrar em ação. Faltam explicações para o ocorrido no sábado, 13 de julho.
O impacto sobre as eleições presidenciais de novembro é claro. Trump tornou-se uma espécie de mártir, com aura de um herói para parcela significativa do eleitorado. A seu lado, um claudicante e inseguro Joe Biden, incapaz de convencer até mesmo correligionários e aliados, fica sem os poucos recursos políticos que ainda dispunha. As pesquisas de opinião tendem a mostrar o crescimento das intenções de voto no republicano.
Aliás, aliados do republicano recuperaram a fala de Biden sobre Trump representar uma “ameaça para a América”. No entanto, o próprio ex-presidente utilizou o mesmo raciocínio em algumas ocasiões. Chumbo trocado entre os antagonistas que deixa no ar a pergunta - quem tem razão nesse caso?
Para a ultradireita, que tenta conquistar mais espaço no cenário global, o momento é favorável. Mesmo no Brasil, setores ideologicamente alinhados a Trump saíram em defesa do ex-presidente e candidato, apontando inclusive possíveis responsáveis pelo ocorrido.
Por fim, cabe registrar a data do evento, véspera da celebração da Revolução Francesa - 14 de julho de 1789. Tudo muito simbólico.
Resumo da ópera: o atentado foi um fato grave que terá repercussão em todo o mundo a curto e médio prazos. O slogan “torne a América grande outra vez” ganha um novo sentido. Ao que tudo indica, o planeta será um lugar diferente muito em breve. Diferente e ainda mais perigoso.
André Pereira César
Cientista Político