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2024 e os desafios de Haddad

É inegável que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, um dos principais quadros do PT e potencial candidato à sucessão do presidente Lula (PT), inicia o ano sob ataque - inclusive o chamado “fogo amigo”. Cantada em verso e prosa ao longo dos últimos meses, sua capacidade de articulação política está sendo desafiada.

Apenas para relembrar, três fatos recentes colocaram o ministro na berlinda. O primeiro deles foi a edição, no final de 2023, da medida provisória que trata da reoneração da folha de pagamento. A ação desagradou não apenas o Congresso Nacional, que havia derrubado o veto presidencial que tratava da matéria, mas também os setores atingidos pela MP. Aqui, há risco real de derrota de Haddad.

O segundo fato diz respeito à questão do déficit zero em 2024. Nesse caso, Haddad parece absolutamente isolado - mesmo petistas de peso, Lula incluído, mostram-se contrários ao posicionamento do ministro, que parece pregar no deserto.

Por fim, houve forte reação contrária da bancada evangélica no Congresso com a decisão da Receita Federal de anular a norma que concedia isenção fiscal a líderes religiosos. Responsável maior pela medida, Haddad pode ter se metido em um vespeiro e pode ser obrigado a recuar.

Há quem qualifique o ministro como um “coletor de impostos”, em sentido quase pejorativo. É importante lembrar que, historicamente, o PT sempre se posicionou contra políticas de caráter fiscalista. Assim, Haddad parece jogar ao lado do adversário, seja ele quem for.

No limite, o titular da Fazenda parece testar os limites de sua força política. O risco de uma grande derrota é real, o que, em um cenário extremo, poderia levar a seu afastamento da pasta. Nesse caso, fica a pergunta - como reagiria o mercado, simpático ao ministro e suas posições?

O ano promete ser difícil para o Planalto em suas relações com o Parlamento, ainda mais quando se sabe que a base aliada está longe de ser sólida. Ao confrontar deputados e senadores, Haddad pode piorar ainda mais a situação. Certamente, o presidente Lula monitora o quadro e poderá agir de maneira mais contundente, caso necessário. O tempo dirá.

André Pereira César

Cientista Político

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