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O agronegócio na berlinda

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Estratégico para o país como um todo e especialmente para o equilíbrio econômico, o agronegócio vive um período de incertezas. A aproximação do governo Bolsonaro com a administração Trump gerou inquietação em outros países, como a China e o mundo árabe, importantes consumidores de nossos produtos. A balança comercial brasileira pode ser severamente afetada.

O agronegócio, representado pela Frente Parlamentar da Agropecuária-FPA, apoiou a eleição de Bolsonaro. Agora, passados poucos meses da posse da atual administração, o setor vê com reservas a política externa, conduzida pelo chanceler Ernesto Araújo. A própria Sociedade Rural Brasileira, referência do setor, criticou a guinada tão à direita do governo Bolsonaro.

Uma frase lapidar do ministro Araújo sintetiza a nova orientação. Em palestra a jovens diplomatas, ele disse que "o Brasil não vai vender sua alma" para exportar commodities. A fala foi vista como um claro recado aos chineses, que, em resposta, sinalizam já estar em busca de outros mercados.

No caso dos árabes, grandes importadores da carne de frango brasileira, a discussão sobre a mudança da embaixada brasileira em Israel, de Tel-Aviv para Jerusalém, gerou mais que desconforto. O ambiente é de desconfiança aberta.

Expoente do setor ruralista, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, está em sintonia com as queixas dos produtores agrícolas e organiza uma missão para a China no início de maio, com o objetivo de aumentar o número de estabelecimentos que podem exportar carne bovina, suína e frango para os chineses, além de aumentar a pauta exportadora para o país.

Durante jantar em Washington com a presença do presidente Bolsonaro, Tereza ressaltou a importância das exportações agrícolas do Brasil para a China - em tempo, o país asiático absorve cerca de 35% das vendas externas de produtos agrícolas do Brasil. O embaixador Sergio Amaral, que deve ser substituído em breve, foi na mesma linha.

A titular da Agricultura enfrenta ainda a pressão de seu partido, o DEM, que não se sente representado por ela. Nesse quadro, não será surpresa se a ministra, num futuro próximo, deixar o posto.

Pecunia non olet - "dinheiro não tem cheiro". A expressão entrou na política brasileira durante a CPMI dos Correios, quando seu relator, Osmar Serraglio, usou-a na abertura de seu parecer. Ao ideologizar a política externa, o governo Bolsonaro, para o bem ou para o mal, dá novo sentido a ela. E o Brasil deve estar preparado para perda de espaço no comércio internacional, com todas as consequências negativas que isso trará.

André Pereira César
Cientista Político

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