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Economia e eleições

Principal preocupação do eleitorado, a economia novamente será protagonista no pleito de outubro próximo. Inflação de dois dígitos, baixo crescimento e desemprego elevado são problemas concretos, enquanto as sequelas da pandemia e a guerra na Europa representam potenciais ameaças.

Em Brasília, dois movimentos simultâneos merecem atenção especial. Enquanto o Banco Central eleva significativamente as taxas de juros para tentar conter a inflação, o presidente Jair Bolsonaro (PL) anuncia um populista “pacote de bondades” com forte impacto sobre as contas públicas. Um pé no freio, outro no acelerador.

De sua parte, o Banco Central atua dentro do esperado. Aumentou a taxa básica de juros (Selic) em um ponto percentual, passando de 10,75% para 11,75%, maior patamar desde abril de 2017. Mais ainda, sinalizou nova elevação em maio. Já se fala em uma taxa de 14% até o final de ano. Dinheiro mais caro para todos, com prejuízos e impacto direto no já baixo crescimento econômico.

De outro lado, a questão eleitoral pesou - e seguirá pesando - nas decisões do Planalto. O recém-anunciado “pacote de bondades” pretende injetar R$ 165 bilhões na economia. São medidas pontuais e de resultados a curtíssimo prazo, como antecipação do décimo-terceiro salário de aposentados e pensionistas, saques extraordinários de até R$ 1 mil do FGTS e ampliação da margem de empréstimo consignado. Populismo à luz do dia e com objetivo único de influenciar no pleito eleitoral.

Pior, empenhado na reeleição e com o apoio do Centrão, o presidente da República certamente exigirá novos gastos e mais ajuda aos setores mais carentes da população. Tudo com pouco ou nenhum planejamento. Como já observamos anteriormente nesse espaço, o liberalismo do ministro Paulo Guedes tornou-se peça de ficção barata.

Dados os movimentos do Planalto, o futuro é sombrio. O próximo presidente encontrará uma terra arrasada. Caso reeleito e sem a perspectiva de um novo mandato, Bolsonaro enfrentará dificuldades extremas para governar. Nesse caso, serão o PT, o Centrão, a pandemia, a guerra na Ucrânia, a Petrobras, os responsáveis pelas possíveis dificuldades que Bolsonaro deverá enfrentar num segundo mandato, caso reeleito?

Ao que tudo indica, somente a atuação do Banco Central, apesar de responsável e necessária, não será suficiente para reverter o quadro ruim que se desenha no horizonte.

André Pereira César
Cientista Político

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