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Bolsonarismo em movimento

A pressão gerada a partir da CPI da Covid e a recente queda nos índices de popularidade presidencial, atestada pela última pesquisa DataFolha, estimularam os apoiadores mais fiéis a redobrar a defesa de Jair Bolsonaro (sem partido). Além das redes sociais, as ruas começaram a receber novamente manifestações favoráveis ao governo.

Os números do DataFolha são claros e contundentes. Em levantamento realizado nos dias 11 e 12 de maio, o instituto apurou que somente 24% dos brasileiros consideram a atual gestão “boa” ou “ótima” - em março, esse índice era de 30%. Já a avaliação “ruim” ou “péssima” oscilou positivamente em um ponto e agora está em 45%. Números ruins para se tentar a reeleição.

As más notícias para o Planalto não terminam aí. Pela primeira vez, a parcela da população favorável ao impeachment de Bolsonaro é numericamente superior ao grupo contrário ao processo - 49% a 46%. Por fim, 58% afirmam que o presidente não tem capacidade de liderar o Brasil, enquanto 38% consideram Bolsonaro com condições de comandar o país.

Portanto, não surpreende a retomada das ações, por parte dos defensores do presidente da República. Esse movimento teve início no feriado de primeiro de maio e registrou nova e estridente rodada no último final de semana, em todo o país. Acompanhado de ministros, Bolsonaro, montado a cavalo, marcou presença à manifestação na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Faz parte da estratégia governista manter seus apoiadores permanentemente mobilizados.

Dois pontos dos atos de sábado último chamam a atenção. Primeiro, a adesão popular ficou abaixo do esperado pelos organizadores, embora eles digam o contrário.  Esse fato, na verdade, é de menor importância - as imagens circularam imediatamente pela internet e, ao eleitor mais desavisado, ficou a impressão de uma grande massa em defesa do presidente.

Segundo, os apoiadores representam nichos específicos do bolsonarismo, como ruralistas, agremiações evangélicas, caminhoneiros e conservadores em geral. A chamada “bolha” marcou presença. Para ter êxito em seu projeto sucessório, Bolsonaro precisa ir além desse grupo - por exemplo, tentar estabelecer um diálogo com o centro do espectro político, hoje sem um nome ou projeto minimamente viáveis, tanto que o ex-presidente Lula tenta atingir, porque sabe da importância eleitoral desse contingente.

As manifestações devem se repetir com maior frequência a partir de agora, e sempre que possível, contará com a presença do titular do Planalto, que precisa manter viva a condição de “mito” junto a seus seguidores. “Bater o bumbo” é parte do modus operandi governista.

PS. Além da perda do ser humano, que não tem preço, a morte do prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), tem impacto na cena política nacional. O PSDB perde uma de suas mais proeminentes lideranças. Além disso, a prefeitura paulistana, agora nas mãos do MDB, pode se tornar um obstáculo a mais no projeto político do governador tucano João Dória, que já vinha enfrentando grandes dificuldades no partido.

André Pereira César

Cientista Político

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