Um olhar sobre a pesquisa DataFolha - Política - Hold

Um olhar sobre a pesquisa DataFolha

Além de atestar o aumento significativo da popularidade do presidente Jair Bolsonaro, a mais recente pesquisa do DataFolha apresenta um raio-X completo do atual estado de ânimo do brasileiro. Abordaremos aqui alguns pontos específicos do levantamento, realizado em 11 e 12 de agosto.

. Avaliação do Congresso Nacional - cantada em verso e prosa, a proatividade do Congresso Nacional não resultou em uma melhor avaliação popular dos parlamentares, ao menos durante a pandemia. Segundo a pesquisa, apenas 17% dos brasileiros aprovam as ações do Legislativo, contra 37% que desaprovam. No último levantamento, realizado no final de maio, esses números eram 18% e 32%, respectivamente.

Apesar de recentemente haver aprovado medidas importantes para minimizar os impactos econômicos e sociais decorrentes da pandemia, o Congresso não conseguiu capitalizar essas realizações. Ao contrário, quem colheu os louros foi o Planalto - vide a votação do Fundeb e o estabelecimento dos R$ 600 emergenciais para os setores mais vulneráveis da população. Aqui, a comunicação do governo, a maciça atuação dos bolsonaristas nas redes sociais com o auxílio de boa parte da imprensa, dão continuidade ao ideário de demonização da política e dos políticos, onde os parlamentares são sempre os vilões, não importando o que se vota. Um exemplo clássico de desconstrução de uma imagem, com origem lá nas manifestações de 2013.

. Avaliação do Supremo Tribunal Federal - no caso da Corte, 27% aprovam a atuação dos ministros, contra 29% de desaprovação. Na pesquisa anterior, a avaliação era de 30% e 26%, respectivamente.

Assim como ocorre com o Congresso, o Supremo segue enfrentando uma onda de descrédito junto à população. Esse quadro ganha força com a divulgação de informações negativas principalmente em redes sociais - os detratores da Corte exploram bem as plataformas e conseguem fazer barulho, o que gera um efeito “bola de neve” contra a instituição. Essa situação não deve mudar a curto e médio prazos.

. Pandemia/responsabilidade pelas mortes - na avaliação de 47% dos brasileiros, Bolsonaro não tem culpa pelos óbitos ocorridos em decorrência do novo Coronavírus. Outros 41% consideram-no um dos responsáveis, mas não o único, e apenas 11% apontam o presidente como o principal culpado.

Esses números mostram que expressões de Bolsonaro como “e daí?” e “eu não sou coveiro” e os mais de 100 mil mortos não geraram impacto na população em geral. O titular do Planalto, até o momento, conseguiu se descolar do noticiário negativo em torno do assunto, e no máximo divide com outras autoridades, como governadores e prefeitos, o ônus pelo avanço da pandemia, esses sim, para grande parcela da população, os principais responsáveis.

. Pandemia/vacina - a preocupação popular com o novo Coronavírus é grande, não há dúvidas. Uma evidência disso está no fato de que 89% dos brasileiros querem se vacinar contra a Covid-19 tão logo o imunizante esteja disponível. Apenas 9% são contra a vacinação.

Aqui se desenha um potencial confronto no horizonte - quem será o responsável pela medicação mais eficaz contra a doença? O governo federal espera os resultados da vacina em produção em Oxford, enquanto São Paulo, do governador João Dória (PSDB), aposta suas fichas em um laboratório chinês e o governo do Paraná, de Ratinho Júnior (PSD), tenta firmar acordo para iniciar testes com a Rússia. Essa autêntica “corrida espacial” terá grande impacto inclusive no processo sucessório de 2022.

. Pandemia/reabertura de escolas - a preocupação popular com a pandemia se reflete também na questão da reabertura das escolas. Para 79% da população, a retomada das atividades agravará o quadro, enquanto apenas 18% consideram que a medida não terá efeitos sobre a disseminação do vírus.

Na verdade, a população em geral segue confusa com a indefinição sobre a retomada das aulas presenciais. Muito dessa confusão tem origem no comportamento titubeante de prefeitos e governadores, que não definiram ainda, com convicção, os rumos a serem tomados. Ponto negativo para os chefes do Executivo.

. Considerações finais - passados vários meses do início da pandemia, o que se vê, no plano político, é um governo federal que consegue sobreviver ao noticiário negativo e, mais ainda, se sobrepõe aos demais Poderes, mesmo com a falsa sensação de que o Planalto se tornou refém deles. O quadro ainda é nebuloso, é fato, mas quem apostava em uma debacle de Bolsonaro precisa revisar seu posicionamento, ao menos por ora.

André Pereira César

Cientista Político

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