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Um olhar sobre a família Bolsonaro

A família Bolsonaro ganhou proeminência na cena política brasileira a partir da posse do patriarca, Jair Bolsonaro (PL), na presidência da República, no início de 2019. Desde então, os três filhos mais velhos concentram boa parte das atenções, com muitas polêmicas e confrontos.

A rigor, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL/SP), o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos/RJ) e o senador Flávio Bolsonaro (PL/RJ) têm muitos aspectos em comum, mas não compõem um bloco único. Ao contrário, há importantes diferenças de estilos. Enquanto Eduardo tem um perfil mais ideológico, ligado ao “eleitorado raiz” do bolsonarismo, Carlos e Flávio são operadores e atuam abertamente em defesa dos interesses do clã.
Nesse desenho, Eduardo ficou com a parte referente aos costumes e ideologia. Carlos, com o cuidado e defesa da imagem do pai, e Flávio é o responsável pelas indicações de autoridades.

Sobre o deputado Eduardo, é possível afirmar que seu componente ideológico norteia suas ações. Bastante ligado a Olavo de Carvalho, o “guru” do bolsonarismo recentemente falecido, ele trouxe para o governo figuras como Abraham Weintraub e Ernesto Araújo, que abraçam teses da ultra-direita. Foi um dos protagonistas da crise entre o Planalto e o Judiciário, chegando a defender o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF), no que foi apoiado por bolsonaristas mais extremados. No comando da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, ele manteve uma relação de beligerância com a China, que quase resultou em uma crise diplomática. Eduardo Bolsonaro, em síntese, representa o atual pensamento da extrema direita brasileira.

O vereador Carlos, por sua vez, é o principal operador do bolsonarismo nas redes sociais, ocupando posição de destaque no notório “gabinete do ódio”, informalmente sediado no Palácio do Planalto. Não por acaso, ele será o responsável pelo marketing da campanha de reeleição de seu pai nas eleições de outubro próximo. Espécie de guarda-costas de seu pai, Carlos é ativista digital que ataca e contra-ataca todo e qualquer adversário do governo, até mesmo aqueles integrantes do próprio governo que porventura venham discordar de seus atos. Um político em permanente e extremada atividade.

Por fim, o senador Flávio é o mais pragmático dos irmãos. Polemista nato, sua participação na CPI da Covid no Senado repercutiu nacionalmente - seus embates com o relator, Renan Calheiros (MDB/AL), quase resultaram em cenas de pugilato. A atuação do filho mais velho do presidente, no entanto, vai muito além. Ele ataca minorias, como homossexuais, geralmente sem meias palavras. Flávio é alvo de investigações envolvendo o esquema das “rachadinhas” quando era deputado estadual no Rio de Janeiro. Aliás, ele é muito próximo ao ex-assessor Fabrício Queiroz, suspeito de diversos ilícitos. Por seu estilo, o senador será um dos coordenadores gerais da candidatura de Jair Bolsonaro à reeleição.

Os três filhos mais velhos do titular do Planalto têm projetos políticos distintos em 2022. O único a enfrentar as urnas será Eduardo, que tentará a reeleição na Câmara. Deputado mais votado em 2018, ele não deverá repetir o desempenho daquele pleito, mas certamente conquistará uma cadeira. Carlos tem mais dois anos como vereador e seguirá atuando no mundo das redes, inclusive na campanha de seu pai. Flávio, com metade do mandato a cumprir no Senado, se dividirá entre a disputa presidencial e o dia a dia da Câmara Alta.

O fato é que, mesmo que o presidente não seja reeleito, seus filhos continuarão com certo protagonismo no cenário político. O bolsonarismo continuará.

André Pereira César
Cientista Político

Colaboração: Alvaro Maimoni – Consultor Jurídico

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