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Um MDB para chamar de seu

É inegável que a crise envolvendo o presidente Jair Bolsonaro e seu partido, o PSL, trará consequências. Uma delas, até o presente momento pouco notada, é o ressurgimento do MDB como protagonista da cena política nacional. Aos poucos, o partido começa a recuperar o espaço perdido nas últimas eleições.

Historicamente, o MDB sempre soube ocupar espaços, se sujeitando sem maiores problemas às demandas do governo de plantão. O governo Collor, o primeiro eleito democraticamente após o regime militar, foi a exceção à essa regra - o partido não integrou a base aliada e o presidente perdeu o mandato menos de dois anos após assumir.

A partir do governo Itamar, a legenda foi peça central para a governabilidade. Sem ele, as agendas de Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma em seu primeiro mandato, não teriam avançado como o foram. No caso da presidente Dilma, o rompimento com os emedebistas foi determinante para seu impeachment.

Passada a tormenta das eleições de outubro de 2018, nas quais o establishment político sentiu o peso da então chamada “nova política”, o MDB, em movimento semelhante ao realizado recentemente pelo DEM, busca rearranjar a casa ao permitir que novas lideranças assumam postos de destaque na estrutura partidária. O primeiro passo foi a chegada à presidência do partido do deputado Baleia Rossi (SP).

Rossi, bom articulador, já se destacava na atual legislatura como líder da bancada na Câmara dos Deputados. Ele também assina a proposta de reforma tributária em discussão na Casa, ocupando o vazio deixado pelo Planalto com relação à essa matéria.

Para além do novo presidente da agremiação, o MDB vai ocupando cargos estratégicos - o líder do governo no Senado Federal é Fernando Bezerra Coelho (PE), outro hábil negociador, e o novo líder no Congresso Nacional é o igualmente senador Eduardo Gomes (TO). Como se vê, quadros com capacidade de suprir as necessidades do Planalto não faltam ao MDB.

Esse “retorno” do MDB coroa ainda antigas lideranças que sobreviveram às recentes intempéries eleitorais, e que sempre estiveram aí, como os senadores Jader Barbalho (PA) e Renan Calheiros (AL). São dois nomes cujas habilidades políticas jamais poderão ser subestimadas.

O futuro imediato do governo Bolsonaro é uma incógnita. De concreto, pode-se apenas afirmar que o MDB está saindo do banco de reservas e iniciando o seu aquecimento para voltar ao jogo dos destinos da Nação - independentemente de quem esteja ocupando a cadeira no Planalto.

André Pereira César
Cientista Político

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